Frame Running/ Petra / Tricicleta / Race Running: autonomia, autoconfiança e autoestima! (versão atualizada)

 


Figura 1. Fonte: https://www.sporthd.news/texto-diario/mostrar/2892540/petra-ganha-nova-classe-funcional-apos-jogos-paralimpicos-toquio//Mundial de Atletismo, em 2019, Dubai. Foto: Ale Cabral/CPB



Petra /Tricicleta / Race Running/ Frame Running: uma modalidade instigante, provocativa, desafiante e inclusiva!



Por Fernando Garrido

 

 

Quando o esporte apareceu por aqui?

Um dos principais responsáveis por trazer e implantar a petra no Brasil foi o professor Ivaldo Brandão Vieira, que a conheceu na Assembleia Geral da Associação Internacional de Esportes e Recreação para Paralisia Cerebral (CPISRA), na cidade de Rosário (Argentina), em 1998.

Trata-se de uma nova modalidade esportiva adaptada em favor da inclusão social de pessoas com paralisia cerebral severa e moderada e originária de um equipamento semelhante a um triciclo, batizado com o nome Petra. Sua prática regular foi instituída em 2009 pela Associação Nacional de Deficientes (Ande), primeira entidade para esportes adaptados. A associação foi criada pelo professor Aldo Miccolis em 18 de agosto de 1975

Ainda no início do século 21, construiu-se um protótipo tupiniquim, a tricicleta, um equipamento que estabeleceu um marco histórico para as condições de difusão do esporte no país.    

O esporte tem crescido no país e no mundo, aspirando ao status paralímpico. E para isso tem contribuído um conjunto de fatores, como a presença cada vez maior de praticantes, países e pessoas com outras deficiências.


        Outros elementos incluem a oferta de iniciação esportiva para a formação de atletas, a capacitação de técnicos, a organização de competições em diversos países europeus e de eventos internacionais, a implantação da classificação funcional RR pelo CPISRA, o aperfeiçoamento do equipamento, a comprovação científica de melhoria da performance física e esportiva e a valorização do esporte como lazer e saúde.

A presença do Brasil na petra race running começou a aparecer de forma regular nos eventos mundiais do CPISRA em 2009, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, destacando-se nos dois principais eventos da associação: o Acampamento e a Copa Internacional Race Running, realizados na Dinamarca anualmente, e os Jogos Mundiais CPISRA, realizados a cada quatro anos, o último em 2019.

O crescimento da petra race running como fenômeno social no cenário mundial favoreceu a abertura de negociações entre o Comitê Paralímpico Internacional (IPC), a World Para Athletics (WPA) e a CPISRA a partir de 2014.


Figura 2. Fonte: https://www.fundesporte.ms.gov.br/atletas-sul-mato-grossenses-conquistam-titulos-no-campeonato-brasileiro-atletismo-paralimpico-em-sp/

Em questão estava o reconhecimento da petra race running como esporte paralímpico e integrado aos eventos IPC/WPA, o que possibilitava maior oferta de novos esportes e competições aos praticantes com paralisia cerebral. 

A participação de representações brasileiras nos eventos do CPISRA, a difusão mundial do esporte e o maior interesse em tornar paralímpico o esporte sinalizavam a necessidade de organizar campeonatos brasileiros da petra, o que se concretizou a partir de 2015, por meio da Ande.

A realização do evento em Maringá (PR), entre 20 e 22 de novembro de 2015, contou com disputas nas distâncias de 100, 200 e 400 metros, em três classes funcionais, e a presença de três clubes: o União Metropolitana Paradesportiva (UMP) – Maringá; a Associação Paralímpica de Paranaguá (APP) – Paranaguá e a Prefeitura de União da Vitória / Universidade do Contestado (PUV/UNC) – com a União da Vitória sendo a vencedora da competição.

Um novo cenário mundial no race running se redesenhava entre o final de 2017 e o início de 2018, com a aprovação pelo IPC e a WPA para integrar o esporte no programa paralímpico mundial de atletismo.

Como consequência, ainda em fins de 2017, o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) decidiu incorporar o Campeonato Brasileiro de Petra à última etapa nacional do Circuito Loterias Caixa. Em 2018, a entidade assumia em caráter definitivo a gestão do esporte no país.

A essa altura, a petra chamava mais atenção, despertando grande interesse dos atletas, especialmente em alcançar índices para participar de competições internacionais.


A partir de 2018, a petra race runing, em âmbito mundial e integrada ao programa paralímpico, passava por testes. Seus novos regulamentos e regras apoiavam-se na classificação esportiva da WPA para o atletismo paralímpico, nas primeiras competições internacionais.

No país, um novo marco histórico no desenvolvimento do esporte se concretizava naquele ano.

Uma das primeiras iniciativas foi a subordinação da gestão da petra à Ande/CPB, com suas competições integrando-se aos eventos de paratletismo em todas as etapas dos programas do Circuito Caixa. Além disso, o esporte foi incluído nas Paralimpíadas Escolares e nos Jogos Paralímpicos Universitários.

Figura 3. Fonte: https://cpb.org.br/noticias/brasil-disputa-competicao-de-petra-na-dinamarca-a-partir-desta-quinta/

Em evidência, a petra proporcionava a primeira medalha brasileira na nona edição do Campeonato Mundial de Paratletismo, realizado em Dubai (Emirados Árabes Unidos) em 2019. A expressiva conquista do petra race running brasileiro foi alcançada por Adriano de Souza, na classe RR3, com a medalha de bronze.

A expectativa de o race running ingressar nos Jogos Olímpicos cresceu antecedendo as edições de 2020 e 2024. Contudo, as mudanças propostas somente deveriam ser implantadas no atletismo paralímpico mundial após os Jogos de Tóquio 2020. 


Ainda em 2020, no conjunto de mudanças propostas, o race running foi renomeado para frame running pelo IPC/WPA.

Uma maior oferta do frame running como lazer, iniciação esportiva, treinamento regular e competição foi determinada por uma nova configuração de forças alinhada à difusão do esporte no mundo.

Nessa direção, segundo Ivaldo Brandão, apud Veiga (2021), o envolvimento de diferentes tipos de praticantes com inúmeras deficiências relacionadas com a mobilidade e o equilíbrio tem contribuído como fator potencializador. Entre elas, podem ser observadas a paralisia cerebral, a distrofia muscular, o mal de Parkinson, a espasticidade, a artrite, a espinha bífida, indivíduos em recuperação de AVC, a ataxia, a atetose, a distonia e indivíduos em fisioterapia ou reabilitação e com fraqueza muscular em geral.

        Um dos grandes eventos mundiais do Atletismo Paralímpico, na modalidade Frame Running teve a presença da seleção brasileira, em 2022. A Copa Internacional (Frame Running Development CAMP & CPISRA International Cup), foi realizada em Frederiksberg, na Dinamarca, entre 10 a 17 de julho.


       acampamento foi organizado em etapas de treinamento, reconhecimento de classificação funcional, curso de formação de treinadores e de assistência técnica. O intercâmbio esportivo com trocas de experiências entre países e a participação na Copa, uma competição de desempenho são componentes de expressivo valor para o crescimento da Frame Running brasileira.


Integravam a delegação os paratletas Adriano de Souza, Flávia de Lima, Giovana Barbosa, Leonardo Fagundes, Luis Junior e Rosenei Herrera, além de 8 (oito) membros da comissão técnica e médica da CPB.


O desenvolvimento da petra brasileira foi observado na Copa pela conquista de resultados expressivos internacionais, com cinco medalhas obtidas pelos atletas:


·       Adriano de Souza, nos 100m (RR1) com 17s47, medalha de ouro,

·       Adriano nos 400 metros com 1min18s32, em primeiro e Leonardo Fagundes com 01min21s66 em segundo lugar, dobradinha com ouro e prata,

·       Giovana Barbosa, venceu a prova feminina nos 400 metros com 1min56s62, medalha de ouro. Também faturou nos 200m, ouro, quebrando o recorde mundial.

        

Figura 4. Fonte: https://cpb.org.br/noticias/brasil-conquista-quatro-medalhas-na-copa-internacional-2022-de-petra-na-dinamarca/

A CPISRA busca o efetivo ingresso do frame running no programa de modalidades dos Jogos Paralímpicos de Paris (França) em 2024.

  

Como o esporte acontece?

          Uma das vertentes do esporte mundial, os esportes adaptados foram criados a partir dos esportes tradicionais para atender a pessoas e suas deficiências, estimulando-as a se envolver com as atividades oferecidas na educação, no lazer e no desempenho, conforme explica Tubino et al. (2007).

Um frame runner é um equipamento formado por um quadro de três rodas sem pedais e um selim para sentar, com o praticante apoiando-se em suportes para o corpo (peito/tronco).

O praticante se locomove impulsionando-se contra o quadro e utiliza as pernas ou os pés para correr e caminhar. O guidão é manipulado por meio das mãos e/ou braços. 

As competições, por sua vez, são realizadas em corridas de distâncias variadas em uma pista de atletismo. As provas podem ser de 100, 200, 400, 800, 1.500 e 5.000 metros.

Os concorrentes são selecionados com base em sua deficiência funcional/esportiva. Todos correm ou caminham contra os outros concorrentes de sua classe, por conta própria.

O esporte atua em favor da mobilidade, do equilíbrio, da melhoria do desempenho motor (força muscular) e do bem-estar físico e emocional.

 

Vamos contar algo mais pra você!

frame running é uma modalidade do esporte adaptado integrante do atletismo paralímpico. 


É regido pela Associação Internacional de Esportes e Recreação para Paralisia Cerebral (CPISRA) e administrado por clubes de atletismo. A partir de 1º de janeiro de 2018, o esporte foi reconhecido pela World Para Athletics (WPA).

Associação Nacional de Desporto para Deficientes (Ande) é a entidade responsável pelo esporte em âmbito nacional.


O nome petra, dado ao esporte, foi uma homenagem à mascote da Paralimpíada de Barcelona de 1992, que ao se exibir na modalidade, teve uma performance incrível.


Figura 5. Fonte: http://ande.org.br/modalidades-petra/

Referências Bibliográficas

Ande. Frame Runing. Disponível em: http://ande.org.br/modalidades-petra/. Acesso em: 18 fev 2022.

____. Frame Running é o novo nome da petra. Disponível em:  http://ande.org.br › noticias-posts › frame-running-e-o-...Acesso em: 25 jan 2022.

____. Notícias: ANDE e CPB juntos pela Petra.  Disponível em: http://ande.org.br/noticias-posts/ande-e-cpb-juntos-pela-petra/Acesso em: 05 fev 2022.

COSTA, L. P. da (Org.). Atlas do esporte no Brasil. Rio de Janeiro, Shape, 2004.

CPB. Brasil disputa competição de petra na Dinamarca a partir desta quinta. Disponível em: https://cpb.org.br/noticias/brasil-disputa-competicao-de-petra-na-dinamarca-a-partir-desta-quinta/.  Acesso em: 21 nov 2023.

CPSPORT. Execução do Quadro. Disponível em: https://cpsport-org.translate.goog/frame-running/?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-PT&_x_tr_pto=sc. Acesso em: 26 jan 2022.

Frame Running. Frame Running Development Camp & CPISRA International Cup 2022 10th - 17th July. Disponível em: https://www.framerunning-triraciai.lt/wp-content/uploads/2022/01/frame_running_camp_cup-2022_english.pdf. Acesso em: 23 nov 2023.

MARÇAL, Luiz Carlos Bernardino et al.   Disponível em: Ranking brasileiro de Petra Race Running – 2015 a 2019. Disponível em: https://www.brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/view/21706/17311. Acesso em: 02 fev 2022.

PARAVIDASPORT. Frame Running / RaceRunning é um esporte popular de CP. Disponível em: https://www.paravidasport.com/2020/04/03/all-about-racerunning/?lang=pt. Acesso em: 01 out 2021.

RACERUNNING. CPISRA RACERUNNING DEVELOPMENT PLAN. Disponível em:https://racerunning.nl/sites/racerunning.nl/files/cpisra_racerunning_development_plan_2019-2022.pdf. Acesso em: 02 fev 2022.

RAD Inovations. Sobre o Frame Running (RaceRunning). Disponível em: https://www-rad--innovations-com.translate.goog/racerunning.html?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-PT&_x_tr_pto=sc. Acesso em: 26 jan 2022.

SIDDIQI, Mansoor. A História da RaceRunning. Disponível em: ande.org.br/wp-content/uploads/2018/03/História-do-RaceRunning.pdf. Acesso em: 27 jan 2022.

TUBINO, M. J. G.; GARRIDO, F. A. C.; TUBINO, F. M. Dicionário enciclopédico Tubino do esporte. São Paulo: Senac, 2007. 

VEIGA, Paula. Frame running, a modalidade paralímpica em ascensão para Paris 2024. Disponível em: https://midianinja.org/ninjaesporteclube/frame-running-a-modalidade-paralimpica-em-ascensao-para-paris-2024/Acesso em: 03 dez 2021.

World Para Athletics. Eventos RaceRunning serão incluídos no programa World Para Athletics. Disponível em: https://www-paralympic-org.translate.goog/news/racerunning-events-be-included-world-para-athletics-programme?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-PT&_x_tr_pto=sc. Acesso em: 02 fev 2022.

 

Comentários