Voleibol Sentado/Voleibol Adaptado: espírito de equipe, superação e inclusão!

 

Figura1. Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/rio-2016/noticia/2016-09/brasil-estreia-hoje-no-volei-sentado-em-busca-de-medalha-inedita-em//Vôlei sentado - Divulgação CPB

 

Por Fernando Garrido

 

Voleibol Sentado/Voleibol Adaptado: autoestima, autonomia e auto-realização!

 

Quando o esporte apareceu por aqui?

            Desde a década de 1990, os profissionais do esporte adaptado no Brasil já detinham o conhecimento da existência do vôlei sentado, mas não o desenvolviam na prática.

O voleibol sentado apareceu em torneio oficial organizado entre três equipes. O evento ocorreu em Mogi das Cruzes (SP), em novembro de 2002, e foi idealizado pelo professor Ronaldo Gonçalves de Oliveira, seu precursor e incentivador.  

Nesse evento, estiveram presentes as equipes do Trabalho de Apoio ao Deficiente (Tradef), em Mogi das Cruzes; do Clube dos Paraplégicos de São Paulo (CPSP) e da Associação Brasileira de Desporto para Amputados (ABDA), de Niterói (RJ).

Na Associação Niteroiense de Deficientes Físicos (Andef), em 2003, surgiam, nas categorias masculina e feminina, equipes de vôlei sentado integradas por pessoas amputadas dos membros inferiores.

Uma das primeiras iniciativas no vôlei sentado foi a estruturação organizacional da sua gestão esportiva em âmbito nacional. Assim, nascia, em 7 de abril de 2003, a Associação Brasileira de Voleibol Paralímpico (ABVP), fundada por João Batista Carvalho e Silva. Em 2012, a associação passou a ser reconhecida como Confederação Brasileira de Voleibol para Deficientes (CBVD). Uma das primeiras iniciativas da ABVP foi a organização do Campeonato Brasileiro em 2003, com seis equipes.

Figura 2. Fonte: https://prefeitura.pbh.gov.br/noticias/bh-em-pauta-bh-tem-unica-equipe-de-volei-sentado-de-inas//Foto: Divulgação PBH

Outro elemento relevante foi a instituição da primeira seleção brasileira de voleibol sentado no final daquele ano para representar o país em eventos internacionais. Na ocasião, a seleção masculina esteve presente nos Jogos Parapan-Americanos de Mar del Plata (Argentina), onde alcançou a prata.

A primeira disputa da seleção em evento internacional no país foi nos Jogos Parapan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007. A seleção adulta masculina conquistou expressiva vitória sobre a equipe dos Estados Unidos (EUA) e obteve o ouro. Tal feito garantiu sua participação nos Jogos Paraolímpicos de Pequim (China), em 2008, além de proporcionar mais divulgação na mídia e estimular o crescimento do esporte no país.

Uma iniciativa tupiniquim de grande repercussão internacional foi a criação do vôlei sentado de praia, na Praia de Ipanema (RJ), ainda em 2007. O esporte foi apresentado na etapa do Circuito Banco do Brasil de Vôlei de Praia, em 22 de outubro, em Cabo Frio (RJ).

Em 2008, a seleção brasileira de vôlei sentado participava da 1ª Paraolimpíada, em Pequim.

O vôlei sentado crescia com a instituição dos Jogos Parapan-Americanos de Jovens para atletas entre 13 e 21 anos. A quarta edição foi disputada em 2017, no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, inaugurado em junho de 2016. Participaram cerca de 800 atletas e 19 países. As seleções de vôlei sentado alcançaram, na categoria masculina, o bronze e, na feminina, o ouro.

Duas décadas depois de sua implantação no país em 2002, o esporte popularizou-se no Brasil motivado por alguns fatores, entre eles, a conquista de medalhas como:

·       o ouro, pelos homens, nos Jogos Parapan-Americanos de Rio de Janeiro (2007), Guadalajara (2011) e Toronto (2015);

·       a prata, pelas mulheres, nos Jogos Parapan-Americanos de 2003, 2015 e 2019;

·       a prata, pelos homens, no Campeonato Mundial de 2014, em Elblag (Polonia);

·       o bronze, pelas mulheres, nos Jogos Paraolímpicos de 2016, no Rio;

·       o bronze, pelos homens, no Campeonato Mundial de 2018, em Arnhem (Holanda). 

Figura 3. Fonte: https://compartilhar.org.br/wp-content/uploads/2016/09/site3-4.jpg//Foto: Divulgação

 

Destacam-se também:

·       a maior oferta de competições nacionais com as Paraolímpiadas Escolares, os Jogos Paraolímpicos Universitários, o Brasil Open e a Copa do Brasil;

·       o intercâmbio internacional para treinamento e competições, fator condicionante para a aquisição de maturidade competitiva;

·       a criação e a consolidação de parcerias com organizações públicas e empresas privadas, proporcionando novas oportunidades em favor de treinamentos e competições no exterior;

·       o envolvimento de atletas no Bolsa Atleta;

·       o aumento do número de equipes no Campeonato Brasileiro, em especial na categoria masculina, com disputas pelas Séries Ouro e Prata, além da feminina;

·       a formação de federações, atletas, equipes de base e a realização de competições estaduais pelo país;

·       a maior visibilidade midiática do esporte com a transmissão de competições nas redes sociais – TV CBVD – e em canais abertos e fechados.

A própria inauguração do Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro (CTPB), em meados de 2016, estabeleceu um marco para o esporte paralímpico brasileiro. Uma ampla infraestrutura esportiva ampliou a convivência entre atletas, gerou acomodação hoteleira e espaço para a torcida, viabilizou treinamentos e competições e criou melhores condições de intercâmbio para atletas e seleções.

Também ampliou a possibilidade de formar atletas, capacitar profissionais diretamente envolvidos com competições e acompanhar as atividades de diversos profissionais de áreas afins em setores como fisioterapia, avaliação física, nutrição, psicologia e laboratórios.

A formação de equipes de base por clubes, associação de deficientes e centros esportivos tornou-se uma realidade no país com o apoio de federações e prefeituras.

A expansão do vôlei sentado é uma realidade como formação educacional e social, lazer (saúde) e competição-rendimento, em diversas organizações públicas e privadas.


Figura 4. Fonte: Campeonato Brasileiro de vôlei sentado feminino contará com oito equipes | Foto: Divulgação/CBVD

 

Como é o jogo?

O voleibol sentado é um esporte coletivo que pertence à corrente esporte adaptado segundo classificação proposta por Tubino et al. (2007).

Podem competir atletas amputados, paralisados cerebrais, lesionados na coluna vertebral e pessoas com outros tipos de deficiência locomotora.

É jogado em quadras de taco, cimento, tartan ou areia que medem 10 x 6 metros. A altura da rede é de 1,15 metro para homens e de 1,05 metro para mulheres.

Em jogo oficial, são formadas duas equipes com seis jogadores titulares em cada lado da quadra. Outros seis jogadores ficam na reserva, perfazendo 12 jogadores em cada equipe.

O jogo é disputado em 5 sets. Cada set é composto de 25 pontos corridos. Vence o time que ganhar 3 sets. No caso de empate (2x2), o último set, o tie-break, tem 15 pontos em disputa. A pontuação é determinada quando a bola toca o chão da quadra do time adversário.

Os jogadores, ao bater na bola, devem estar em contato com o solo, com a pélvis encostada no chão o tempo todo, exceto nos deslocamentos. Somente são permitidos três toques na bola antes de passá-la para o lado adversário.

O rodízio é feito no sentido horário pela equipe que, ao receber o saque, recuperou a posse de bola e, consequentemente, o direito de sacar. 


Figura 5. Fonte: https://avozdacidade.com/wp/alunos-de-escola-publica-de-barra-mansa-experimentam-atividades-fisicas-de-inclusao/Alunos aprovaram as atividades físicas de inclusão - Foto: Paulo Dimas/PMBM


        Uma das diferenças entre o voleibol sentado e o tradicional é que o saque poder ser bloqueado pelos jogadores adversários da linha de frente.

 

Vamos contar algo mais pra você!

O voleibol sentado é dirigido e organizado pela Organização Mundial de Voleibol para Deficientes (WOVD). No Brasil, essa função é desempenhada pela Confederação Brasileira de Vôlei para Deficientes (CBVD).

Um dos grandes nomes do vôlei sentado é o do ex-jogador da seleção brasileira de voleibol Amauri, que conheceu a modalidade em 2004, em um evento no Centro Olímpico, em São Paulo. As suas contribuições em favor do desenvolvimento do voleibol paralímpico se deram como técnico e presidente da CBVD, em busca de maior interesse da mídia, do envolvimento de empresas públicas e privadas e de patrocínio para eventos.

O vôlei sentado surgiu de uma combinação do voleibol convencional, jogado em pé, e o Sitzbal, um esporte alemão que não utiliza rede. Uma simples fita separa as equipes formadas por pessoas com mobilidade limitada em jogo sentado.

Nas Paraolimpíadas de Sydney 2000, ocorreram as últimas disputas do esporte realizadas sob duas formas – em pé e sentado. A Paraolimpíada de Atenas, em 2004, trouxe duas grandes novidades. Na primeira delas, o vôlei paralímpico somente foi jogado sentado. Na segunda, foi incluída a participação de equipes femininas.

Os principais eventos mundiais são os Campeonatos Mundiais de Voleibol Sentado e as Paraolimpíadas, sendo os Jogos Parapan-Americanos uma competição classificatória para esses eventos.

O crescimento do vôlei sentado, conforme se observa, deve-se ao maior envolvimento de algumas dezenas de organizações públicas e privadas de diversos setores da sociedade brasileira, que o utilizam também como uma poderosa ferramenta para promover inclusão social.

 Aliás, ele é um dos esportes coletivos com valioso potencial de inclusão social. Podem participar equipes formadas por praticantes com ou sem deficiências, de ambos os sexos e de diferentes faixas etárias: todos juntos e misturados. Que tal colocar em prática?

Você pode formar dois grupos e partir para adaptar o jogo – desde o espaço físico (usando materiais simples) até as regras e o tipo de bola a serem usados. É só dar início ao jogo e ir observando as novas possibilidades.

Não perca de vista que o esporte coletivo, em especial o vôlei sentado, por ser uma ferramenta geradora de coesão social e inclusão, se tornou uma grande alternativa para as aulas de educação física. O jogo sentado exerce um certo grau de nivelamento de ações. As dificuldades e limitações de movimentos, assim como a exigência das regras, de certa forma, colocam todos em condições de igualdade, independentemente de terem ou não deficiência. E isso acaba despertando maior consciência para a realidade da inclusão social.

Uma das ocasiões especiais do esporte paraolímpico foi o amistoso entre a seleção de vôlei da “Geração de Prata”, vice-campeã olímpica de 1984, e a seleção brasileira de vôlei sentado, vice-campeã mundial de 2014, que venceu a disputa por 2 a 0. Disputado no Parque do Flamengo (RJ) em 7 de setembro de 2014, o evento não só celebrou essa data nacional antes dos Jogos Paraolímpicos de 2016, mas, acima de tudo, buscou dar mais visibilidade ao esporte paralímpico e mostrar sua importância em promover inclusão social.

Figura 6. Fonte: https://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/projeto-realiza-desafio-de-volei-sentado-em-praia-da-zona-oeste-18012019//Desafio reunirá paratletas e campeãs olímpicas do vôlei//Divulgação

O vôlei sentado pode ser jogado em quadras ao ar livre ou cobertas, na areia ou em espaços improvisados. Você pode implantá-lo adaptando-o às necessidades e possibilidades dos praticantes em diferentes locais, como academias, escolas, condomínios, salões de festa, hotéis-fazenda, sítios, clubes, escolas de samba, Forças Armadas, empresas, ruas, além de espaços para projetos e programas sociais.

 

Referências Bibliográficas

CARVALHO, C.L. Voleibol Sentado: do conhecimento à iniciação da prática. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br › download › pdf. Acesso em: 26 mar 2022.

CBVD. Home. Disponível em: http://cbvd.org.br/Acesso em: 30 mar 2022.

CHAVES, Lincoln. COLUNA VOLEI SENTADO INICIA CICLO COM NOVIDADES E ESPERANCA DE OURO. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/esportes/noticia/2021-12/coluna-volei-sentado-inicia-ciclo-com-novidades-e-esperanca-de-ouro. Acesso em: 27 mar 2022.

CPB. Jogos Parapan-Americanos de Jovens servirão de celeiro de talentos para o Brasil. Disponível em: https://cpb.org.br/noticia/detalhe/1531/jogos-parapan-americanos-de-jovens-servirao-de-celeiro-de-talentos-para-o-brasil. Acesso em: 28 mar 2022.

CPB. Parapan de Jovens 2017 mostra a evolução do esporte. Disponível em: https://cpb.org.br › noticia › detalhe › parapan-de-jove...Acesso em: 30 mar 2022.

CPB. Volei Sentado. Disponível em: https://www.cpb.org.br/modalidades/60/volei-sentado. Acesso em: 26 mar 2022.

FIN, Vinícius. Volei Sentado. Disponível em: https://www.ufrgs.br/nehmeparalimpico/catalogo-esportes/esportes-paralimpicos/volei-sentado-2/. Acesso em: 02 abr 2022.

INTELIGENCIAESPORTIVA. Volei Sentado. Disponível em: http://www.inteligenciaesportiva.ufpr.br/site_api/arquivos/volei-sentado.pdf. Volei Sentado. Acesso em: 02 abr 2022.

MIRON, E.M. Da pedagogia do jogo ao voleibol sentado: possibilidades inclusivas na Educação Física Escolar; Inclusão. Disponível em:  https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/2882?show=full. Acesso em: 05 abr 2022.

PROMOVIEW. Evento marca dois anos para início dos Jogos Paralímpicos. Disponível em: https://www.promoview.com.br/categoria/geral/evento-marca-dois-anos-para-inicio-dos-jogos-paralimpicos.html. Acesso em: 02 abr 2022.

TUBINO, M. J. G.; GARRIDO, F. A. C.; TUBINO, F. M. Dicionário Enciclopédico Tubino do Esporte. Editora Senac: São Paulo. 2007.

VOLEISENTADODEPRAIA. Vôlei Sentado de Praia já atrai seguidores na orla do Rio. Disponível em: http://www.voleisentadodepraia.com.br/basicPage/infoView.asp?ns=1021D4D8595A9BE1014846E39935D1DE. Acesso em: 25 mar 2022.

















 





















































































































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