Ferromodelismo/Ferreomodelismo/Model Railroading: hobby e esporte recriando em escalas reduzidas fatos históricos reais!
Fonte: https://www.portalr3.com.br/2021/12/hobby-do-ferreomodelismo-se-espalha-pelo-brasil/(Foto: Divulgação) |
Ferromodelismo/Ferreomodelismo/Model Railroading: habilidade motora, autonomia e criatividade!
Por Fernando
Garrido
Quando
o esporte apareceu por aqui?
É
difícil precisar o aparecimento do ferromodelismo no Brasil. Ele pode ter
surgido ainda no tempo do Império, quando as ferrovias começaram a ser
construídas no país.
A vinda de engenheiros ingleses,
alemães e de outras nacionalidades favoreceu a construção das primeiras
ferrovias no Brasil logo após meados do século 19. Tal fato ampliou as
perspectivas de transporte de mercadorias e de passageiros, seja de
casa para o trabalho, seja em passeios turísticos ou de fora dos centros
urbanos.
Não se pode desconsiderar que as
primeiras ferrovias no Brasil pertenciam a empresas inglesas. As primeiras
locomotivas, bem como outros equipamentos ferroviários, também foram importadas
da Europa.
Por volta de 1830 e 1840, alemães e
ingleses já haviam construído os primeiros modelos europeus de trem a vapor em
miniatura, que não eram considerados simples brinquedos. Já as primeiras
miniaturas europeias a motor elétrico só foram produzidas em 1900 pela empresa
germânica Märklin.
Pode-se dizer que, a essa altura, já
havia o modelismo ferroviário na Europa e, muito provavelmente, no Brasil, uma
vez que a maquete era uma das etapas do processo de construção da ferrovia,
necessária ao seu acompanhamento como um todo (ferrovia, equipamentos,
entorno).
O certo, contudo, é que o ferromodelismo no Brasil
começou a ganhar grande impulso na década de 1930, com o aumento da importação
de miniaturas de trem a corda e, principalmente, a eletricidade por
colecionadores das marcas Bing, Lionel e Märklin.
Por essa
época, as primeiras miniaturas feitas no Brasil ainda eram consideradas
brinquedos em relação ao grande desenvolvimento do ferromodelismo no resto do
mundo.
Um conjunto
de fatores potencializou a difusão do ferromodelismo entre as décadas de 1950 e
1960, estabelecendo um marco divisor para o aumento do seu significado social
no país.
Na década
de 1950, as miniaturas de trem no país eram produzidas, em lata e a corda, pela Metalma. Acredita-se que o início da produção de trens elétricos, referenciado pela
revista Centro-Oeste, tenha sido uma das primeiras mudanças
impulsionadas pela criação das fábricas Estrela (1956) e Atma (1958).
Outras iniciativas incluíram a produção de um pequeno
trem a pilha – com bitola HO, nas versões carga e passageiros –
pela Estrela e o lançamento do primeiro trem elétrico nacional – com bitola OO
ou HO, de 16,5 milímetros de largura entre trilhos e com escala 1:87, de
corrente alternada e três trilhos, seguido por um trem de corrente contínua e
dois trilhos – pela Atma.
Por
sinal, um
dos elementos de grande repercussão e mudança de paradigma no ferromodelismo
foi a aceitação e a produção comercial mundial da bitola OO ou HO, de 16,5 mm
de largura entre trilhos e escala 1:87. Isso proporcionou a diminuição da
maquete, sua instalação fixa, sua elevação do chão para cima da mesa, bem como
o seu funcionamento por meio de um transformador de baixa voltagem conectado a
uma rede elétrica.
Outro fator
de sucesso para o esporte/hobby foi a estruturação da sua gestão organizacional
com a fundação da Sociedade Brasileira de Ferromodelismo (SBF) em 1960, em São
Paulo, em caráter nacional, e da Associação Mineira de Ferromodelismo (AMF), em
Belo Horizonte (MG), em 1964. A Associação Brasileira de Modelismo Ferroviário
(ABMF) foi fundada em 1965 e extinta em 1981.
Fonte: http://www.ferreoclube.com.br/2015/10/01/operacoes-ferroviarias-em-maquetes/ |
O início da produção de trens em
escala reduzida pelas Indústrias Reunidas Frateschi, empresa brasileira
criada em 1967, proporcionou maior oferta e redução de custos em relação aos
equipamentos importados. A Frateschi
situa-se em Ribeirão Preto (SP) e é a única empresa na América do Sul
a produzir comercialmente trens elétricos em miniatura e réplicas
de composições reais. Atualmente, ela fabrica e exporta
diversos modelos para outros países.
O ferromodelismo
também se desenvolveu graças à organização dos primeiros clubes, associações e
federações exclusivos, que formaram e espalharam grupos de ferromodelistas pelo
país.
Um componente de
grande visibilidade foi a criação do Modelódromo do Ibirapuera (SP), em 1967,
aberto à participação do modelismo em geral. Tal fato potencializou a adesão de
apreciadores, em especial do ferromodelismo. O espaço abriga um centro
esportivo que oferece a formação de modelistas em aeromodelismo (aeronaves e
espaçonaves), automodelismo de fenda (modelos de carros de corrida), ferromodelismo
(transportes ferroviários), nautimodelismo (veleiros, transatlânticos, barcos e
navios) e plastimodelismo (construções em escala reduzida).
A
participação e a premiação de modelistas ferroviários em eventos internacionais
serviram de estímulo para o ferromodelismo no país. Entre alguns dos seus principais destaques
estão o industrial Celso Frateschi; Marcelo Lordeiro, incentivador e construtor
artesanal premiado no exterior; Nagib Tanuri; Nelson F. de Lima e Fabio Dardes.
A maior oferta de informações sobre modelismos em
geral, e em especial o ferromodelismo, contou com a presença de grandes
entusiastas que resolveram contribuir com a publicação de revistas.
Uma delas é a Sport Modelismo, revista
editada por Walter Nutini, um amante do aeromodelismo que optou por reunir um
grupo de profundos conhecedores de cada um dos modelismos e passou a gerar
grande conteúdo desde a primeira edição em maio de 1967.
Outra é a Centro-Oeste, editada por Flávio
R. Cavalcanti e exclusiva de ferromodelismo. A publicação foi lançada em 20
dezembro de 1984 e circulou em papel até dezembro de 1995. A partir daí, passou
a ser encontrada no meio digital.
A terceira delas traz em destaque Celso Frateschi,
editor da Revista Brasileira de Ferromodelismo, uma publicação
exclusivamente técnica iniciada em 1988.
Essas iniciativas deram maior visibilidade às
modalidades de modelismo. Ampliaram a publicidade de locais onde encontrar
equipamentos e materiais, estamparam espaços de prática e de grupos
organizados, além de terem estimulado a elaboração de modelos (maquetes) com
sugestão de elementos e ilustrações de construções em cores.
Outro elemento
de valor exponencial tem sido a organização de encontros anuais de caráter local,
regional e nacional, como feiras, mostras e exposições. A iniciativa tem sido
estimulada por cidades onde os trens criaram estações e anexos,
desenvolveram-se e influenciaram decisivamente a vida cotidiana. Também tem
sido proporcionada por fabricantes de produtos e entidades de caráter esportivo
em geral.
Dessa forma,
são promovidos concursos e competições presenciais e virtuais e premiações para
carros, vagões, locomotivas, modelos imaginários, maquetes, composições
completas e dioramas, o que estimula também participações em eventos de âmbito
internacional.
Uma das primeiras competições foi
patrocinada pela Ferrovia
Paulista S/A (Fepasa) em 1985 e coordenada pelo seu diretor, Wanderley Paulini,
com iniciativas reproduzidas em 1987 e 1988.
Outro ponto
de destaque são as visitas turísticas, que promovem o fortalecimento da cultura
ferroviária brasileira divulgada em espaços culturais
criados nas próprias estações e nos seus anexos. Essas visitas turísticas (guiadas ou não)
integram os calendários de eventos e datas comemorativas dessas cidades. Dois bons exemplos são os de Indaiatuba (SP) e Soledade
(MG), cidades que abrigam museus ferroviários, pontos de informação turística e
estandes de venda de produtos alimentícios e de artesanatos locais.
A criação de museus ferroviários,
uma iniciativa de fundamental significado, desperta a atenção para maquetes com
cenários de diferentes épocas, que abrangem desde a implantação de ferrovias e
suas estações até o crescimento de cidades ao seu redor e o deslocamento de
produtos industriais e agropecuários.
A prática
do ferromodelismo como esporte ou hobby tem sido desenvolvida por grande número
de apreciadores no Distrito Federal e nos estados de Pernambuco, Minas Gerais,
Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Fonte: https://barulhocuritiba.bemparana.com.br/post/curitiba-vai-sediar-a-iv-mostra-de-modelismo-ferroviario#.Ydc502jMJPY (Foto: Divulgação) |
Como
é o esporte/hobby?
O
ferromodelismo é um esporte, hobby ou profissão que reproduz, de forma estática
ou dinâmica, um contexto da vida real em escala reduzida.
Esse
cenário envolve o movimento de trens de passageiros e cargas, engates,
desengates, manobras, movimentação de partidas e chegadas, além da apresentação
de locomotivas, vagões, estações, ramais e desvios.
É uma prática que apresenta modelos reais em escala HO (a mais utilizada no Brasil) ou de qualquer outra escala de modelismo.
O ferromodelismo tem sido apresentado em mostras, exposições e encontros por meio de maquetes em escala reduzida utilizadas em concursos ou competições.
Busca-se
reproduzir fielmente miniaturas de locomotivas, vagões, estruturas, dioramas
(conjuntos), ruídos de trens, sons de propulsão das máquinas, de apitos e de
sinaleiras, entre outros.
Os eventos
ocorrem no Brasil e no exterior. A Associação Nacional de Ferromodelismo
(NMRA), dos Estados Unidos, oferece concursos e competições a construtores
amadores nas categorias aberta, individual e por equipe,
conforme pode ser observado em seu site.
São
julgados itens como fotografias, módulos, trens, artes e ofícios, peças,
maquetes e projetos de modelos e construções em miniatura, bem como
apresentação final.
A votação é
realizada via internet por assinantes e sócios de revistas, sites de empresas e
entidades esportivas mundiais. Pode ser também realizada por juízes
selecionados por entidades internacionais e empresas fabricantes de
equipamentos.
Os prêmios incluem
assinaturas de revistas, kits de equipamentos oferecidos por patrocinadores e
até valores em dinheiro, que são distribuídos entre os três primeiros
colocados.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=xwb0KPG8dj0//Maria-Fumaça na Estação Paulista | Ferromodelismo Ep. 24 |
O ferromodelismo como esporte ou hobby é uma atividade que desenvolve um grande número de habilidades de caráter manual, técnico e profissional, como marcenaria, mecânica (modificações nas locomotivas), elétrica, eletrônica, pintura.
Apresenta estreita relação com
atividades profissionais, como arquitetura, engenharia, desenho, artes, programação visual, urbanismo
e logística, além de ajudar a promover consciência
ambiental ao utilizar materiais recicláveis, como garrafas plásticas, palitos
de sorvete, raspas de pneus, isopor e jornais para construir os cenários.
Vamos
contar algo mais pra você!
A
Sociedade Brasileira de Ferromodelismo (SBF) é a entidade máxima do esporte no
Brasil.
Em âmbito
internacional, há várias organizações que congregam apreciadores do ferromodelismo.
Essas instituições estabelecem normas de construção de seus modelos, e entre as
mais antigas estão: a The National Model Railroad Association (NMRA); a The
British Railway Modelling Standards Bureau (BRMSB) e a The Normes Européennes
Modelfer (NEM).
O verdadeiro ferromodelismo deve relacionar a
miniferrovia a um objetivo imaginário ao deslocar (carregar e descarregar)
mercadorias, pessoas e cargas entre destinos equidistantes.
Os elementos devem ter identidade e harmonia e ser
estrategicamente colocados em um cenário de vida real, mas em miniatura. Como
exemplo, pode-se partir de uma cidade “A” com uma carga de minério de ferro e
descarregá-la em um cais de porto de uma cidade “B”, transportando-a, a seguir,
por navio. Nesse sentido, uma série de
elementos serve para compor o cenário, como carros, casas, ruas, galpões,
montanhas, túneis, guindastes, navios etc.
A atual conjuntura demostra o fortalecimento da
malha ferroviária brasileira de norte a sul e de leste a oeste no país,
diferentemente de épocas passadas, marcadas por um colonialismo cultural e
industrial que priorizou a construção de rodovias, atrasando o desenvolvimento
do país.
A valorização estratégica do modal ferroviário em
curso no mundo real detém o poder de transformar o país, impulsionando o
desenvolvimento humano, econômico e social e, consequentemente, fomentando o
interesse pelo hobby, esporte e profissão, a fim de preservar a história e a
memória ferroviárias.
Por sinal, as maquetes de ferromodelismo estão sempre em constante evolução.
Centro-Oeste.
História do ferreomodelismo no Brasil. Home. Disponível em:
http://vfco.brazilia.jor.br/historia-do-ferreomodelismo.shtml. História do
ferreomodelismo no Brasil. Acesso em: 13 dez 2021.
CAVALCANTI, F. Comunicação Pessoal.
Rio de Janeiro, 1992.
DA COSTA, L.P
(Org). Atlas do Esporte no Brasil. Rio de Janeiro: Shape, 2004.
Ferromodelismo
Brasil. Maior Portal brasileiro de Ferromodelismo. Disponível em: www.ferromodelismobrasil.com.br/Acesso em:
27 mar 2018.
LORDEIRO, M. Comunicação Pessoal.
Rio de Janeiro, 1992.
OLIVEIRAS, L. O. da S. Comunicação
Pessoal. Rio de Janeiro, 1992.
SBP.
Reportagem sobre a maquete da SBF no Ibirapuera, em São Paulo. Disponível em: www.minhaferrovia.com.br/?p=1194
Acesso em: 27 mar 2018.
TUBINO, M. J. G; GARRIDO, F. A. C.;
TUBINO, F. M. Dicionário Enciclopédico Tubino do Esporte. Editora Senac: São
Paulo. 2007.
Comentários
Enviar um comentário