Bicicross/BMX: velocidade, força e equilíbrio!

 

Figura 1. Fonte: http://noticiasdepaulinia.com.br/bicicross-de-paulinia-vai-a-jarinu-defender-a-lideranca-no-paulista/

Bicicross/BMX: relações interpessoais, autoconfiança e espírito de equipe!

 

Por Fernando Garrido

 

Quando o esporte apareceu por aqui?

Em julho de 1978, Orlando Camacho, conhecido por sua experiência e seus títulos conquistados no ciclismo, foi contratado pela fábrica Monark para dar início ao desenvolvimento do esporte no país.

Camacho também precisava encontrar um local que servisse de instalação para uma pista da fábrica Monark. Ela seria utilizada para testes, treinamentos e apresentações da bicicleta BMX.

Os testes com as bicicletas do tipo BMX começaram a ser realizados no final do daquele ano, culminando com a sua primeira apresentação em 22 de janeiro de 1979. O local escolhido foi uma pista montada na Marginal Pinheiros, em São Paulo, próximo à ponte da Avenida Cidade Jardim.

Nesse momento, Camacho também formava a primeira equipe brasileira de Bicicross Racing da América do Sul, integrada por Oklinhos, Niltão, Pedrão, Meio Kilo e Erwin, todos garotos do bairro da Mooca.

As primeiras aparições de brasileiros em eventos internacionais de bicicross ocorreram de forma esporádica e inusitada e, até mesmo, antes do próprio desenvolvimento do esporte no Brasil.


Figura 2. Fonte: https://paulinia24horasnoticia.com/2018/10/21/escola-de-bicicross-atendera-300-alunos-gratuitamente/Alunos da Escola Paulínia Racing Bicicross na pista do Poliesportivo dos Trabalhadores (Foto: Divulgação)


Quem nos conta essa história é Luís Britto Pereira, que foi a trabalho para os Estados Unidos em 1977. Chegando lá, logo seus dois filhos, Bernardo e Alexandre, iniciaram-se no esporte, participando regularmente de provas do Campeonato Americano e também do Campeonato Mundial realizado pela National Bicycle Association e pela National Bicycle League, em Indianapolis, em 30 de setembro de 1978.

Segundo Luís Britto, participaram do campeonato aproximadamente 1.200 atletas de países como Austrália, Japão, Canada, México, Coreia, Dinamarca, Jamaica e Estados Unidos. Com as primeiras vitórias no campeonato norte-americano, Bernardo e Alexandre logo obtiveram o patrocínio da loja de biciclets High Gear Cyclery, da cidade de Summit. Ainda crianças, ambos alcançaram marcas no esporte. Bernardo foi vice-campeão na categoria até 10 anos, chegando a ganhar uma etapa na mesma categoria. Alexandre foi vice-campeão da categoria até 7anos.

Em julho de 1979, chegavam ao Brasil algumas bicicletas de bicicross trazidas por Luís Britto dos Estados Unidos. O interesse entre a garotada da Barra da Tijuca (RJ) foi imediato, com pistas sendo improvisadas em terrenos baldios. Segundo Britto, a primeira corrida de forma organizada no Rio de Janeiro foi promovida, ainda em 1979, pela Loda Speed Team, em uma pista construída junto à Via 11.

O esporte se organizava no país com a criação do 1º Campeonato Paulista de Bicicross, em março de 1982. O primeiro clube do esporte, em São Paulo, foi o Monark BMX.

Em 1983, o controle sobre o bicicross passava às mãos da Confederação Brasileira de Ciclismo (CBCi), que orientava as federações filiadas a criar departamentos do esporte. Nesse mesmo ano, foi realizada a primeira competição de nível internacional, a Copa Brasil Caloi Cross, que contou com atletas dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

O 1º Campeonato Brasileiro de Bicicross foi realizado em 17 de julho de 1983, na pista do Ibirapuera (SP). O vencedor foi Eduardo Ramires, que repetiu o feito no ano seguinte.

A primeira entidade esportiva estadual, a Federação Paulista de Bicicross, foi criada em 1988. Um ano depois, o esporte consolidava a sua estrutura organizacional com a criação da Confederação Brasileira de Bicicross (CBBX), apoiada pelas federações de São Paulo, Minas Gerais e Paraná.

A realização de eventos internacionais do esporte no Brasil cresceu durante a década de 1990. Foram realizados o Campeonato Latino-Americano de BMX, em Jaraguá do Sul (SC), em 1991, e o Campeonato Sul-Americano, em São Leopoldo (RS). A essa altura, a atleta Cristina Krindges tornava-se tricampeã mundial em 1992, 1993 e 1995.

Figura 3. Fonte: https://www.cbc.esp.br/noticias/busca/id/11407//BMX Freestyle//Crédito: Luis Claudio Antunes/CBC

Em 2002, foi realizado o 7º Campeonato Mundial de Bicicross, em Paulínia (SP). Participaram do evento 1.002 atletas, de 24 países, disputando 38 categorias. O Brasil ficou em terceiro lugar.

No Campeonato Mundial de 2003, realizado em Perth (Austrália), a equipe brasileira da Petrobras, de Paulínia, venceu na categoria equipes patrocinadas. Nesse mesmo ano, fundou-se a Associação Brasileira de Bicicross (ABMX).

Em 2006, o Campeonato Mundial de Bicicross voltou a ser realizado no Brasil, agora na cidade de São Paulo.

Nos Jogos Panamericanos Rio de 2007, o bicicross alcançou a medalha com a atleta Ana Flávia Sgobin, prata (detalhes).

A popularização do esporte no país ocorreu em definitivo com a realização dos primeiros ESPN X-Games Brasil, entre 25 e 27 de abril de 2008, e as presenças efetivas do esporte na mídia de massa e do grande público nas competições.

A primeira presença do BMX em Jogos Olímpicos aconteceu em Pequim-2008, com disputas tanto no masculino quanto no feminino. Contudo somente nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012 o país esteve representado pelo atleta Renato Rezende. 

Os resultados alcançados em eventos nacionais e internacionais de BMX contam pontos no ranking para a presença de representantes brasileiros, em eventos mundiais como por exemplo em Campeonato Mundial e Jogos Olímpicos. No Campeonato Mundial de Ciclismo BMX de 2014, em Roterdã (Holanda) estavam presentes os atletas Renato Rezende, Miguel Dixini, Rogério Reis e Priscila Carnaval, na categoria elite, e Anderson Ezequiel e Júlia Alves, na categoria júnior.

Figura 4. Fonte: https://www.cbc.esp.br/fotos/album/id/26//Brasileiro de BMX 2015//Crédito: Thiago Lemos/CBC

A formação de novos talentos, o intercâmbio de treinamentos e competições no exterior, além do apoio em investimentos no BMX fizeram a diferença para o alcance de resultados expressivos nos Jogos Panamericanos conforme aconteceu em Lima (PER) de 2019. Os atletas Anderson Souza Filho e Paola Reis nas provas de corrida acabaram conquistando as medalhas de prata.

           

Como é o esporte? 

           Segundo Tubino et al. (2007), o bicicross é uma modalidade da corrente esportes radicais, de aventura e natureza. 

        No bicicross, conhecido por BMX Racing, são corridas realizadas de forma coletiva, em pista de terra e com bicicletas de aro 20. Com cerca de 400 metros de extensão, essas pistas são montadas com obstáculos e dificuldades (lombadas, rampas, morros, curvas acentuadas, valetas e ondulações). A corrida deve começar em rampa (com oito metros aproximadamente) para que os ciclistas ganhem velocidade logo no início.

Essas pistas permitem a realização de manobras radicais, como as ultrapassagens e os saltos nas lombadas (aclives). Nas corridas, vence aquele que chega na frente do grupo de corredores.

As bicicletas utilizadas no BMX são específicas e possuem características adaptadas às condições das pistas. São bicicletas leves, resistentes e de pequeno porte. Geralmente, possuem rodas de aro 20 e pneus apropriados para a terra. Elas possuem apenas uma marcha e um freio (roda de trás).

No BMX freestyle, são disputas de manobras e saltos em diferentes locais, de forma  individual.

No flatland, são feitas manobras com a bicicleta no solo, exigindo-se equilíbrio.

No dirt jump, são executados saltos em rampas de terra, com alturas e distâncias variadas e manobras.

No street, utiliza-se a pista de rua com seus obstáculos (corrimão, bancos, muretas, paredes), ou seja, tudo o que vier pela frente.

No vertical, a bicicleta voa muito alto no half-pipe (rampa em forma de U), com manobras nas bordas e nos chamados aéreos (voos para fora da rampa).

No park, as disputas são realizadas em percursos fechados (skateparks ou bikeparks), onde se encontram obstáculos que, inicialmente, procuravam simular os obstáculos das ruas. Atualmente, ele já possui um desenho próprio, com rampas para aéreos e saltos, além de bancadas, muros e paredes e poucas simulações de obstáculos encontrados nas ruas, como escadas e corrimãos.

As competições de BMX nos Jogos Olímpicos envolvem dois tipos de provas.

Uma delas é o Supercross ou BMX Racing onde acontecem as disputas por baterias com 8 atletas cada, até se chegar à final. As bicicletas utilizadas possuem rodas com aro 20”, além de uma marcha e um freio. A largada é dada de uma plataforma de cerca de 10m de altura e os atletas passam por obstáculos montados na pista até cruzar a linha de chegada.

Uma outra modalidade foi adotada nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020/2021 a prova Park do BMX freestyle, onde as disputas são individuais e os atletas devem dar duas voltas de um minuto cada pela pista com diversos obstáculos. O julgamento de forma subjetiva envolve avaliar as manobras em originalidade, dificuldade, estilo execução.

A segurança é essencial em um esporte com quedas frequentes, o que torna necessário o uso de equipamento obrigatório: capacete com protetor de boca, joelheira, luvas, tênis e roupas apropriadas.

 

Vamos contar algo mais pra você!

            O esporte é dirigido e organizado no Brasil pela Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC).

Em âmbito mundial, o bicicross é dirigido pela União Ciclista Internacional (UCI).

O BMX e suas modalidades são praticados em locais públicos ou privados, cobertos ou não, e exclusivos, em pistas de terra ou concreto. Podem ser encontrados em praças e parques e em empreendimentos comerciais fechados e cercados, como shoppings e centros de lazer.

Em diversas cidades pelo país, há clubes, equipes e escolas de bicicross que oferecem iniciação esportiva, treinamento regular para atletas, torneios e competições, além da prática em projetos sociais e como simples lazer.

O profissionalismo chegou em definitivo ao esporte com a sua inclusão nos Jogos Olímpicos de Pequim (China) em 2008.

O BMX está presente em diversas competições mundiais, como nos BMX X Games, no Campeonato Pan-Americano e no Sul-Americano de BMX Race, no Campeonato Mundial UCI, na Copa Latino-Americana, na Super Cross World Cup e nos Jogos Olímpicos da Juventude.    

Orlando Camacho é considerado o “Pai do Bicicross no Brasil”.

 

Referências Bibliográficas

BARCELOS, R. Comunicação pessoal. Rio de Janeiro, 1993.

CAMACHO, Orlando. Comunicação pessoal. Rio de Janeiro, 1995.

COSTA, L. P. da (Org.). Atlas do esporte no Brasil. Rio de Janeiro: Shape, 2004.

GAZETA ESPORTIVA. Um novo esporte chega ao Brasil: cross em bicicleta. São Paulo: edição de 13 maio, 1979.

PANARA, J. Comunicação pessoal. Rio de Janeiro, 1994.

PEREIRA, L. B. Comunicação pessoal. Rio de Janeiro, 1994.

REDEDOESPORTE. Com desempenho inédito, Brasil conquista duas pratas no ciclismo BMX no Pan. Disponível em: http://rededoesporte.gov.br/pt-br/noticias/com-desempenho-inedito-brasil-conquista-duas-pratas-no-ciclismo-bmx-no-pan. Acesso em: 5 jan. 2022.

SANTOS, Walter. Comunicação pessoal. Rio de Janeiro, 1994

TUBINO, M. J. G.; GARRIDO, F. A. C.; TUBINO, F. M. Dicionário enciclopédico Tubino do esporte. São Paulo: Senac, 2007.

 


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