Bolão/Bowling 9: tomada de decisão, resolução de problemas e relações interpessoais!



Fonte: http://fmdriodosul.com.br/futsal-feminino-bocha-e-bolao-masculino-disputam-regional-dos-jasc/


 Bolão/Bowling 9: criatividade, autonomia, trabalho em equipe e cultura de paz! 


Por Fernando Garrido


Quando o esporte apareceu por aqui?

O bolão conhecido com o nome de Kegelnfoi trazido para o Brasil por imigrantes alemães e seus descendentes e espalhou-se pelo país a partir do início do século 19.

O processo começou na Região Sul, especialmente no Rio Grande do Sul, e de forma progressiva ganhou o restante do país.

A chegada da imigração alemã favoreceu a disseminação de novos hábitos, costumes e comportamentos no cotidiano da população brasileira.

 Entre as novidades, estava a valorização da vida associativa em clubes, agremiações e sociedades, o que proporcionava intensas e harmoniosas relações de convívio social, sobretudo pela disponibilidade da prática esportiva como diversão a todos.

Nesses locais, podia-se também trocar ideias sobre a terra natal, conversar sobre política, ler notícias e livros em alemão, falar a língua pátria, fazer atividades costumeiras, manter tradições (como o artesanato) e divertir-se com jogos de caráter esportivo, como o bolão. Tais atividades reforçavam laços culturais (especialmente alemães) e ocorriam mediante o pagamento de mensalidades.

A prática do jogo de bolão espalhou-se principalmente em cidades pioneiras da imigração alemã. Nova Friburgo e Petrópolis (RJ); Rio Negro (PR); Blumenau, Brusque e Joinville (SC), além de Agudo, Lajeado, Santa Cruz do Sul, São Leopoldo e Teutônia (RS), são alguns exemplos.

As primeiras canchas (pistas) do jogo tinham características rudimentares e eram construídas em barro e areia. As disputas ocorriam ao ar livre e utilizavam diferentes regras.

A oferta de pistas em estabelecimentos comerciais (como armazéns e bodegas), bem como em clubes, casas de diversão e bailes, crescia e ampliava a natureza comercial do jogo, uma vez que se cobrava pela utilização desses espaços como lazer, principalmente aos domingos.

Os jogos de bolão também podiam ser vistos com presença de público e sob o regime de apostas, práticas marcantes dos primeiros tempos do esporte moderno no Brasil e no mundo.

O aumento da quantidade de clubes a partir da metade do século 19 possibilitou a melhoria das instalações, dessa vez com pistas cobertas e de madeira.

O jogo de bolão – introduzido em clubes e associações exclusivos de esportes como o tiro, a ginástica, o remo e o tênis – crescia como lazer e negócio, à disposição de sócios e clientes. O jogo aparecia em matérias ilustradas de jornais e revistas e atraía a colônia alemã.

Segundo Costa (2004, p.68), entre alguns dos primeiros locais de diversão pública no Rio Grande do Sul, estavam: a casa de Miguel Kroff, um imigrante prussiano que oferecia o bolão e o tiro ao alvo em 1852; a cancha de bolão, de 1873, do imigrante alemão Augusto Walmrath, em Porto Alegre; e o grupo Separtat, na Sociedade Orfheu de São Leopoldo, em 1883. 


Fonte: https://colmeia.am.br/wp-content/uploads/2016/04/Campeonato-Regional-de-bol%c3%a3o-iniciou-com-cinco-jogos-01.04.2016-01.jpg

Em Santa Catarina, o esporte teve como um de seus espaços pioneiros o Schützenverein, de 1859, em Blumenau; hoje, Tabajara Tênis Clube.

Na passagem entre os séculos 19 e 20, o bolão alcançou mais visibilidade com anúncios habituais nos jornais da comunidade alemã, principalmente de competições aos domingos e com distribuição de prêmios. Despontavam entre os clubes da época: o Musterreiter Klub (atual Sociedade dos Caixeiros Viajantes), de 1885, e o Koseritz Deutsche Zeitung, de 22 de janeiro de 1887.

Uma nova realidade se consolidava no bolão com a marcante presença feminina, principalmente a teuto-brasileira. Com a fundação do grupo 14 de abril, as mulheres abriam espaço em um jogo predominantemente masculino. A equipe, formada em 1896 pelos associados da Gesellschaft (Sociedade Leopoldina), foi a primeira de Porto Alegre.

Outra iniciativa feminina que rompeu resistências e ilustrou a importância do esporte como diversão para as mulheres foi a formação, em 1918, do Grupo de Bolão Violeta Arco-Íris, da Sociedade Leopoldina Juvenil, também em Porto Alegre.

Em 1901, surgia o grupo Bolão Pim-Pão, também da Sociedade Leopoldina. No mesmo ano, criou-se a equipe 6 de Setembro, da Sociedade de Ginástica de Porto Alegre (Sogipa), um dos clubes mais tradicionais do Rio Grande do Sul.

Os primeiros eventos de caráter competitivo surgiam entre clubes, associações e grupos, colocando em destaque as disputas individuais e entre casais. O jogo de bolão também se expandia com mais oferta de novas competições, a formação de ligas nas cidades do interior do Rio Grande do Sul e a cobertura no rádio e na imprensa escrita.

A esse quadro somava-se a organização de campeonatos da primeira e segunda divisões e a fundação da entidade de direção esportiva estadual. Todos esses elementos retratavam a disseminação do esporte no Rio Grande do Sul entre as décadas de 1930 e 1940.


Fonte: https://www.novohamburgo.rs.gov.br/noticia/bolao-resgata-origens-alemas-durante-jogos-estudantis//Bolão foi uma das novidades dos Jogos Estudantis de Novo Hamburgo - Foto: Bruna Provenzano

Segundo Costa (2004, p.68), o 1º Campeonato de Porto Alegre de Bolão, da primeira divisão, foi realizado em 1939, no Esporte Clube Navegantes. O evento foi vencido pela Sociedade Gondoleiros de Porto Alegre.

A primeira entidade esportiva de direção estadual do esporte foi a Federação Paulista de Bocha e Bolão, fundada em 04 de abril de 1941, tendo como clubes fundadores a Sociedade Esportiva Palmeiras, Clube de Regatas Tietê, Clube Esportivo da Penha, Clube Espéria e Sport Club Corinthians Paulista.

Em 1944, foi criada a Federação de Bolão do Rio Grande do Sul, a primeira entidade exclusiva do bolão que promoveu melhorias na organização, direção, divulgação e na promoção dos eventos esportivos.

Competições tornavam-se regulares, como o 1º Campeonato Metropolitano de Bolão, da segunda divisão, que ocorreu na sede da Sociedade Esportiva Flórida, no Rio Grande do Sul, em 1945.

O jogo do bolão também alcançava destaque como competição em Santa Catarina, principalmente com a criação da Federação Catarinense de Bocha e Bolão (FCBB), em 1952, o que despertou grande interesse de apreciadores.

A maior oferta de competições estaduais e nacionais nos formatos individual e casais bem como o estímulo à formação de equipes femininas estabeleceram um marco divisor para o esporte entre as décadas de 1960 e 1970.

Um dos bons exemplos de propagação do bolão ocorreu com a criação dos Jogos Abertos de Santa Catarina em 1960, na cidade de Brusque, com bola de madeira de 23 centímetros de diâmetro.

O jogo de bolão irradiava visibilidade maior com a organização do 1º Campeonato Brasileiro de Bolão 16, no estado de São Paulo, em 1969. O evento, de grande repercussão, também contou com as participações de Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Com a consolidação do bolão 16, campeonatos estaduais passaram a ser organizados regularmente a partir de 1972. No ano seguinte, o bolão aparecia oficialmente no Paraná com a criação da Federação Paranaense de Bocha e Bolão.

Os Jogos Abertos de Santa Catarina de 1974, em Criciúma, foram os últimos a serem realizados com bolas de madeira de 23 centímetros. Depois, as bolas passaram a ser feitas de resina e a medir 16 centímetros.


Fonte:https://www.clickcamboriu.com.br/esporte/2017/07/bolao-de-itajai-conquista-titulo-no-campeonato-catarinense-171704.html?amp

Naquela ocasião, a Sociedade Desportiva Vasto Verde, de Blumenau, foi a campeã da Taça Ouro Bolão 16, na categoria masculina.  No ano seguinte, a Taça foi disputada na categoria feminina e vencida pela Associação Atlética Tupy, de Joinville.

Uma das mais importantes contribuições para a disseminação do jogo veio da atuação decisiva da FCBB. Formar um grupo de atletas e elaborar um programa para a divulgação e a instrução do esporte em clubes, por exemplo, foram iniciativas que acabaram favorecendo a introdução do bolão 16 em todas as regiões do estado.

Em 1975, ocorreu o 1º Campeonato Estadual de Bolão de Casais, promovido pela Federação de Bolão do Rio Grande do Sul.

Um dos fatores de grande estímulo à prática do bolão foi o desenvolvimento tecnológico dos equipamentos. Em 1983, por exemplo, implantou-se um sistema eletrônico de armação de pinos na Associação Leopoldina Juvenil, o que trouxe nova dinâmica e rapidez ao jogo.

Em trajetória de crescimento, o bolão desligava-se da Confederação Brasileira de Desportos Terrestres (CBDT) para formar a Confederação Brasileira de Bocha e Bolão (CBBB). A criação da CBBB trouxe vida própria ao esporte, criando-lhe novas oportunidades a partir 4 de maio de 1991.

Na passagem entre séculos 20 e este, ocorreram significativas transformações, como a formação de equipes de base, a participação de seleções brasileiras e seus primeiros resultados expressivos internacionais.

Uma das primeiras grandes conquistas do Brasil foi em 1995, no Campeonato Mundial de Bolão 16 de Luxemburgo. Participaram também Alemanha, Argentina, Bélgica, Eslováquia, Itália, Holanda e o país-sede. O atleta paulista Rogério Arkie foi o campeão no individual.

A atuação no Campeonato Mundial de Bolão 16 de 1999, em Senigália (Itália), rendeu-nos a quarta colocação com a dupla catarinense Alfeu de Souza Roepke Júnior e Clever Ricardo Passig. Por equipes, conquistamos o quinto lugar entre doze países participantes.

Uma série de grandes conquistas no bolão 16 tem se concretizado neste século. A primeira foi no Campeonato Mundial de Clubes de 2017, na Alemanha, com as equipes feminina e masculina do Esporte Clube Pinheiros (ECP) conquistando medalhas de bronze.

No Mundial de Clubes de 2018, também na Alemanha, a equipe do ECP repetiu o feito ao conquistar a terceira colocação com os atletas Wagão, Alex, Flavio, Rogerio e Rafael.

A equipe feminina do ECP voltou a repetir o feito de 2017 no Campeonato Mundial da Bélgica, em julho de 2019. A equipe, integrada por Beatriz, Elisabeth, Marion, Silene, Tatiana e Vera, conquistou o terceiro lugar na categoria adulto após participação de disputas compostas por 3 etapas: individual, duplas e equipes.

A prática do bolão é oferecida em clubes e associações esportivas, valorizando a formação de diversas categorias de base. Há iniciação esportiva em escolinhas, além de treinamentos regulares de equipes de base e de alto rendimento.

O bolão busca formar novos atletas para participar de eventos esportivos (torneios e campeonatos) em âmbito local, estadual, nacional. Visa, também, formar novos talentos para integrar seleções brasileiras em eventos internacionais.

Instalações exclusivas para a prática do esporte e competições programadas estão presentes em diversos clubes tradicionais espalhados pelo país. Além disso, alguns desses clubes são detentores de expressivos resultados em competições nacionais e internacionais.

Um dos bons exemplos dessa visão é o próprio Esporte Clube Pinheiros (ECP), com conquistas de títulos brasileiros em 2019, nas categorias sub-14 e sub-18. Enquanto a equipe do sub-14 garantia o tricampeonato brasileiro, o grupo do sub-18 alcançava o título inédito. 

         

Fonte: http://www.fbrgs.com.br/galeria-de-fotos


O bolão é praticado principalmente como lazer, competição e formação educacional e social.

 

Como é o jogo?

            A bolão é um esporte de característica da “corrente tradicional” (TUBINO et al., 2007).

O bolão apresenta estreita semelhança com o boliche. É conhecido como “boliche de nove pinos” e considerado, portanto, um esporte tradicional.

A pista (cancha), de aproximadamente 30 metros de comprimento, é estreita entre o seu início e a sua metade, abrindo-se, em seguida, até aos pinos.

Cada equipe no jogo tem o direito de arremessar cinco bolas de resina ou madeira por pistas por jogador, e derrubar o maior número possível dos nove pinos de plástico ou madeira, dispostos em forma de losango (garrafas de madeira ou plástico), que a equipe adversária.  



O bolão na formação educacional e social

A segunda década deste século marcou a chegada do jogo de bolão no universo das escolas públicas estaduais, municipais e privadas do Rio Grande do Sul, no ensino fundamental.

Duas iniciativas para introduzi-lo no cenário escolar surgiram em 2012, orientadas por esportistas. Em Nova Petrópolis (RS), o esporte foi oferecido como atividade curricular para crianças e jovens entre 9 e 15 anos, no contraturno. Em Novo Hamburgo (RS), ele integrou os Jogos Estudantis, disputados por jovens entre 9 e 13 anos, na Sociedade Ginástica de Hamburgo Velho.

Resgatar tradições esportivas da cultura alemã, oferecer novas vivências esportivas na escola, integrar estudantes pelo esporte e formar novos praticantes por meio do lazer, além fomentar a participação de atletas em competições estaduais e regionais, estiveram entre os objetivos das ações.

No caso de Nova Petrópolis, as bolas oficiais do jogo (de 6 quilos) pesavam somente 2 quilos, o que facilitava seu manuseio nos arremessos.

O jogo de bolão é mais uma opção de conteúdo a ser oferecida aos alunos e deve procurar observar aspectos como habilidade motora, faixa etária e série escolar.

Ao organizarem o jogo, os próprios alunos podem implementar, com a orientação do professor, elementos como:

·  materiais recicláveis (como garrafas pet) para confeccionar equipamentos e delimitar espaços, desenvolvendo, assim, conceitos como consciência ambiental e a responsabilidade social;

·       oficinas para elaborar os equipamentos, despertando criatividade e motivação;

·  a simplificação de regras para redefinir aspectos técnicos como número de arremessos e distâncias.

Como sugestão, com os alunos já sentados depois da atividade, o professor poderá, por exemplo, debater sobre a importância da aquisição de valores éticos, morais e sociais durante a tarefa realizada.



Onde você pode jogar bolão?

            Você pode praticar o bolão em diversos lugares do país, listamos alguns
  • Esporte Clube Pinheiros (ECP), em São Paulo;
  • Clube Paulista de Bolão (CPB), em São Paulo; 
  • Sociedade Esportiva Friburguense (SEF), em Friburgo (RJ); 
  • Nova Friburgo Country Club (NFCC),  em Friburgo (RJ); 
  • Clube 29 de Junho, em Petrópolis (RJ); 
  • Clube de Caça e Tiro Dias Velho (CCTDV), em Rio do Sul (SC);
  • Sociedade de Ginástica de Porto Alegre (Sogipa), em Porto Alegre (RS);
  • Clube Curitibano (CC), em Curitiba (PR).

Organização no Brasil

O bolão é dirigido pela Confederação Brasileira de Bocha e Bolão (CBBB).

 

Organização Internacional

A direção internacional do bolão é realizada pela Federação Internacional de Boliche (FIQ).

 

Referências Bibliográficas

COSTA, L. P. da (Org.). Atlas do esporte no Brasil. Rio de Janeiro: Shape, 2004.

Esporte Clube Pinheiros.  Bolão.  Disponível em:https://www.ecp.org.br/esportes-e-atividades/bolao/Acesso em: 17 ago 2021.

FCBB. Bolão 16. Disponível em: http://www.fcbb.com.br › modalidades › tipo=bolao16. Acesso em: 17 ago 2021.

FKC. Bolão - Bola 16. Disponível em: http://www.fkcbolao16.com.br. Acesso em: 30 ago 2021.

FROSI, Tiago Oviedo; MORAES, Ronaldo Dreissig de; MAZO, Janice Zarpellon. As mulheres não estão no mapa! Um estudo sobre a presença das mulheres no cenário esportivo de Porto Alegre (1863-1941). Disponível em: https://www.efdeportes.com/efd144/presenca-das-mulheres-no-cenario-esportivo-de-porto-alegre.htm.Acesso em: 18 ago 2021.

KRELING, H. M. O Bolão: o esporte nas colônias alemãs do Rio Grande do Sul – RS. Porto Alegre: Martins Liveiro, 1984.

Prefeitura de Novo Hamburgo. Bolão resgata origens alemãs durante os Jogos Estudantis. Disponível em: https://www.novohamburgo.rs.gov.br/noticia/bolao-resgata-origens-alemas-durante-jogos-estudantis.Acesso em: 04 ago 2021.

radiowebesportiva. Notícias: JASC, contagem regressiva: faltam 35 dias! O destaque hoje é o Bolão 16. Disponível em: https://radiowebesportiva.com.br/noticia/68349/jasc-contagem-regressiva-faltam-35-dias-o-destaque-hoje-e-o-bolao-16. Acesso em: 17 ago 2021.

SCHUPP, D. Comunicação pessoal. Rio de Janeiro, 1992/1995.

TUBINO, M. J. G.; GARRIDO, F. A. C.; TUBINO, F. M. Dicionário enciclopédico Tubino do esporte. São Paulo: Senac, 2007.

 




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