“Bocha/Boules: as bolas vão rolar!”

 


Figura 1. Fonte: https://www.teamdc.org/wp-content/uploads/2011/05/bocce.jpg


“Bocha/Boules: acerte no bolim!”


Por Fernando Garrido


Quando o esporte apareceu por aqui?

A chegada de imigrantes italianos, especialmente ao Rio Grande do Sul, entre outras regiões importantes do país, levou à progressiva disseminação de hábitos e costumes na cultura brasileira.

As primeiras associações criadas pelas famílias dos colonos tinham o objetivo de oferecer ajuda humanitária e difundir a cultura italiana no país. Essas associações criavam a oportunidade de estreitar laços de convivência entre pares oferecendo possibilidades de conversar em italiano, contar histórias, resgatar lembranças da terra natal, transmitir hábitos e costumes (como receitas da culinária italiana), além de praticar o jogo de bocha (ainda sem regras definidas) em 1870.

            Um dos primeiros registros do esporte retrata a bocha como passatempo dos colonos italianos na inauguração da Igreja de São Marcos, em 1897.

Nas regiões colonizadas, os costumes foram sendo difundidos e absorvidos pela população local. Nessa época, nas cidades do Sul, vários clubes e algumas bodegas dispunham de canchas (quadras) de bocha.

No início do século 20, a contribuição italiana foi decisiva para difundir o esporte nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, estabelecendo os alicerces do jogo com a criação de clubes, competições e regras uniformes. Em 1915, por exemplo, surgia, no bairro São João (RS), a Sociedade Gondoleiros, que ajudou a desenvolver a bocha e outros esportes.

            Nas décadas de 1930 e 1940, o esporte seguia crescendo com o aumento do número de clubes, ligas e competições.

O reconhecimento do jogo de bocha como esporte pela então Confederação Brasileira de Desportos (CBD), em 1943, foi determinante para a sua disseminação no país.

A primeira entidade municipal do esporte no Rio Grande do Sul – a Associação Porto-Alegrense de Bocha (fundada em 1942) – viria a se transformar em Federação Rio-Grandense de Bocha, em 4 de abril de 1944, tornando-se uma ferramenta de expansão do esporte na Região Sul do país.

A organização do 1º Campeonato de Bocha de Porto Alegre, ainda em 1944, já sinalizava o progresso esporte. O evento contou com a presença de dez clubes e teve como campeão o Clube de Bocha Central. Um ano depois, na mesma cidade, era realizado o 1º Campeonato Estadual de Bocha, também vencido pelo mesmo clube.

Figura 2. Fonte: https://regrasdoesporte.com.br/wp-content/uploads/2012/12/bocha-regras.jpg

            Tudo isso abria perspectivas para o Brasil participar de eventos internacionais. A bocha brasileira se filiava à Confederação Sul-Americana de Bochas e participava do 4º Campeonato Sul-Americano Masculino, na Argentina, em 1950. Vale lembrar que competição foi disputada com regras oficiais e não com aquelas jogadas no Brasil, conhecidas como as regras do “ponto” e da “bota”.

A gestão do esporte se ampliava com a criação de Ligas pelo interior do Rio Grande do Sul.

Em 1952, em São Paulo, a CBD organizava o 5º Campeonato Sul-Americano de Bocha, o que evidenciava o crescente interesse pelo esporte no país.

         As representações brasileiras de bocha sucediam-se em eventos internacionais, marcando presença também no 2º Campeonato Mundial de Bocha, realizado em Montevidéu (Uruguai), em 1957.

        Em repercussão ao desenvolvimento do esporte, organizou-se o 1º Campeonato Brasileiro Masculino de Bocha em 1964, em São Paulo. Do evento participaram Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul, que foi o campeão.

A presença feminina estabelecia um marco divisor no esporte com a organização do 1º Torneio Misto de Bocha em 1966.

            As regras adotadas ainda não eram oficiais e deram origem às modalidades pontobol, rafa ou jogo livre (oficialmente reconhecidas pela CBD em 1975). Três anos depois, o Brasil conquistava o título sul-americano.

            Com a extinção da CBD em 1979, dezenas de esportes (entre eles a bocha) passaram a se subordinar à Confederação Brasileira de Desportos Terrestres (CBDT), entidade esportiva eclética.

            As evidências sobre o desenvolvimento do esporte também apareciam nas competições femininas, que ganhavam força com a realização do 1º Campeonato Sul-Americano Feminino de Bocha, realizado em São Caetano do Sul (SP), em 1987.

Nesse mesmo ano, ocorreu o 1º Campeonato Brasileiro Feminino de Bocha, com atletas de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.  A campeã foi a equipe de São Paulo.

           Em 4 de maio de 1991, a trajetória da bocha ganhava contornos próprios com a fundação da Confederação Brasileira de Bocha e Bolão (CBBB), que abria um conjunto de novas oportunidades para o desenvolvimento do esporte.

            Entre as novas iniciativas estava a organização de eventos internacionais no país. Um dos primeiros foi o Campeonato Mundial de Clubes de Bocha de 1998, realizado em Garibaldi (RS) e vencido pelo Brasil. Naquele ano, também foram realizados o Mundial de Seleções e o 1º Campeonato Brasileiro de Bocha-Rafa, em Erechim (RS).

A presença de representações brasileiras do esporte crescia no exterior. Uma delas foi no Mundial de Seleções de 2003, disputado na Suíça. No evento, que reuniu 20 países, o Brasil obteve o terceiro lugar, sinalizando o êxito da CBBB em promover decisões arrojadas que visassem à maturidade competitiva dos atletas.

Um dos resultados expressivos conquistados no país ocorreu em 2006, durante o 1º Campeonato Mundial de Seleções de Bocha, realizado em Montenegro (RS), com vitória sobre a equipe da Itália.



Figura 3. Fonte: http://www.jogosescolares.pr.gov.br/arquivos/Image/aaaaafoz/03122010DSC_4211.jpg

As iniciativas da CBBB e de outras entidades internacionais para reconhecer a bocha como esporte olímpico levaram à necessidade de unificar as regras, adotando-se a da modalidade mundial (punto-rafa-vollo) em substituição à regra sul-americana (FPBB), em 2009.

Nesse mesmo ano, nos Jogos Mundiais de Taiwan (China,) as seleções brasileiras feminina e masculina alcançaram o segundo e terceiro lugares, respectivamente.

A difusão da bocha se intensificou com as disputas sendo realizadas em canchas de grama, areia, carpete, concreto liso nivelado e piso sintético (o mais moderno utilizado) e em locais abertos e fechados.

O esporte era oferecido em diferentes tipos de eventos esportivos, como jogos internos, regionais, abertos, do interior, de terceira idade e gincanas.

A bocha é praticada em clubes, paróquias, hotéis-fazenda, sindicatos, praias, parques e praças. Nestes dois locais, foram criadas canchas públicas.

Ela pode ser encontrada no Distrito Federal e em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

A bocha é disputada como lazer, competição-desempenho, instrumento para a formação educacional (em programas de inserção social e escolas) e esporte paralímpico.

Na modalidade paralímpica (adaptada), a bocha tem alcançado resultados expressivos para o país em eventos internacionais. Mas essa história, cheia de momentos de superação, vamos contar em outro momento.

A prática de bocha também pode ser encontrada na areia da praia (beach bocha), em eventos esportivos de alto rendimento e como atividade de lazer.

A bocha é disputada em eventos esportivos internacionais como Campeonatos Sul-Americanos, Pan-americanos, Mundiais de Clubes e Seleções, em suas modalidades, além dos Jogos Mundiais (World Games), nas categorias masculina, feminina e mista. Em âmbito nacional, são disputados a Taça Brasil de Clubes e os Campeonatos Brasileiros em diversas categorias de idade e sexo.

Figura 4. Fonte: https://i.ytimg.com/vi/82WdAi2ouZY/maxresdefault.jpg

Em março de 2019, o Brasil esteve presente no Mundial de Bocha de Tucumán (Argentina), que foi disputado nas categorias individual masculino e feminino e duplas mistas.  A dupla mista brasileira, representada por Silvia Bohnenberger e Valdecir Garcia, tornou-se campeã mundial.

 

A bocha é uma ferramenta de valor na formação educacional e social!

A bocha é um esporte perfeitamente adaptável ao universo escolar, favorecendo a criatividade do professor e dos alunos em relação a diversos elementos, por exemplo:


· forma de participar: individual, duplas ou equipes (mistas);

· comprimento da cancha: pode diminuir ou aumentar em relação a fatores como idade e habilidade motora;

· tipo de piso: qualquer tipo de pavimento; por exemplo, piso liso (a bola rola) ou areia (a bola é lançada pelo alto);

· materiais e equipamentos: podem ser alternativos como bolas de meia, plástico ou borracha, com enchimentos diversos (como raspas de pneus), marcação – em duas ou mais cores – levemente pintada em tinta acrílica, sequência numerada de 1 até 20 ou, a cada quatro bolas, repetindo-se um número, por exemplo, “1”, e assim por diante;

· locais de jogo: em campo aberto ou diferentes espaços fechados, como salas de aula;

 Figura 5. Fonte: https://www.saalva.com.br/wp-content/uploads/2017/12/Bocha.jpg





· formas de jogar: lançar a bola pelo chão utilizando as mãos e pés alternadamente;

· quantidade de bolas dos praticantes: uma ou mais;

· valores: a atividade atua em favor de tarefas envolvendo a prática de habilidades físicas, motoras e emocionais; possibilita a aquisição de atitudes de cooperação, autonomia, raciocínio, criatividade e também a transmissão de valores relacionados a trabalho em equipe, relação interpessoal, saúde, inclusão social, qualidade de vida, entre outros aspectos.


Como é o esporte?

O objetivo do jogo é a marcação de pontos com o lançamento das bolas e a aproximação delas a um ponto determinado pela posição do bolim (bola pequena).

A bocha é um esporte de característica da “corrente tradicional” (TUBINO et al., 2007).

Oficialmente, existem no mundo quatro modalidades deste jogo, a saber:

Zerbin – reconhecida pela Fédération Internationale de Boules;

Punto-Rafa-Vollo – reconhecida pela Confederazione Boccistica Internazionale;

Sul-Americana – reconhecida pela Confederação Sul-Americana de Bochas e;

Bocha-Rafa – adotada apenas no Brasil.


Oficialmente as disputas do jogo acontecem!


· A bocha é praticada em local cercado, conhecido por cancha, e delimitado, por exemplo, por tábuas laterais e duas cabeceiras de madeira;
· A partida se inicia com o arremesso de uma bola pequena (denominada bolim ou jack) na pista;
· Onde o bolim parar, dentro da área pré-determinada, é o ponto fixo de aproximação das bochas a serem lançadas pelos jogadores;

· As dimensões da cancha medem 26,50 metros de comprimento, 4 metros de largura e 30 centímetros de altura nas laterais;

· Na cancha, são encontradas linhas transversais coloridas, marcadas no piso, e que correspondem de A até E. Elas representam: linha A/preta – os locais de lançamento de bochas; linha B/verde – lançamento do bolim, das bochas a ponto e da jogada de rafa; linha C/azul – lançamento de tiro; linha D/amarela – limite mínimo de toque das bochas no terreno e limite máximo para o jogador atingir depois de lançar o bolim e de bocha a ponto e linha E/vermelha – distância mínima do bolim e limite máximo ao lançar bocha-rafa ou tiro;

· Podem participar duas pessoas (individual) ou duas equipes de até três jogadores;

· As bochas (bolas) são de madeira ou resina sintética, arremessadas sobre uma cancha de terra batida, saibro ou material sintético;

· As bochas são lançadas alternadamente por cada um dos jogadores;

· O jogador ou equipe vencedora é aquele que conseguir aproximar mais bochas do ponto estabelecido – próximo ao bolim – conquistando mais pontos e chegando à pontuação máxima exigida na partida, de 15 pontos;

· Nas disputas individuais, os jogadores têm direito a quatro bochas, enquanto, nas partidas de trios e duplas, são duas para cada um;

· Para cada tipo de jogada, há uma distância demarcada no chão e requisitos a cumprir. Para o jogador pontuar, não pode ultrapassar a linha B, devendo rolar a bocha o mais próximo do bolim. No jogo da rafa, a bocha deve cair antes do meio da cancha. No jogo do tiro, a bocha é lançada em ângulo alto. O jogador pode chegar até a linha D para efetuar o lançamento; 

· As disputas ocorrem por categorias A e B – principais, veteranos, juvenis, masculino, feminino, duplas, trios, entre outros;

· A prática da bocha pode ocorrer em diferentes tipos de cancha: grama, terra batida, areia, carpete, concreto liso nivelado e piso sintético (o mais moderno utilizado);

· As competições oficiais podem ser realizadas em canchas naturais e sintéticas;

· O objetivo do jogo é colocar o maior número de bolas perto do bolim depois dos quatro arremessos;
· A cada grupo de quatro arremessos, são computados os pontos de acordo com o número de bolas perto do bolim: 1 bola = 1 ponto, 2 bolas = dois pontos;

· O jogo de bocha é conhecido por diferentes nomes, como: Bocha 48, Cinquilho, Sueto, Pontobol, Palmo e Raia.


Organização no Brasil

            A bocha é organizada e dirigida pela Confederação Brasileira de Bocha e Bolão (CBBB).

 

Organização Internacional

A bocha é dirigida e organizada pela mundialmente pela Fédération Internationale de Boules (FIB).

 

Referências Bibliográficas


ALMANAQUE dos esportes. Rio de Janeiro: Rio Gráfica, 1975.

BAR DA BOCHA. Bocha – Histórico. Disponível em: https://bardabocha.wordpress.com/bocha-historico/Acesso em: 13 fev. 2021.

BOLETIM CBD. História dos esportes orientados pela CBD. Rio de Janeiro, n. 24, jan./fev. 1973.

CBBB. CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BOCHA E BOLÃO. Bocha. Disponível em: https://www.cbbb.net.br/Acesso em: 14 fev. 2021.

COSTA, L. P. da (Org.). Atlas do esporte no Brasil. Rio de Janeiro: Shape, 2004.

Duarte, O. Todos os esportes do mundo. São Paulo: Makron Books, 1996.

Licht, H. A história da bocha. Rio Grande do Sul, Brasil, 1992.

MUNICÍPIO DE OTACÍLIO COSTA. Campeonato de Bocha chega ao final. Disponível em: https://www.otaciliocosta.sc.gov.br/noticias/index/ver/codMapaItem/12052/codNoticia/7397. Acesso em: 13 fev. 2021.

STEIGER, R. N. O emocionante espetacular esporte da bocha. Sagra: São Paulo, 1987.

TUBINO, M. J. G.; GARRIDO, F. A. C.; TUBINO, F. M. Dicionário enciclopédico Tubino do esporte. São Paulo: Senac, 2007.













































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