O ESPORTE COMO FERRAMENTA PARA O DESENVOLVIMENTO DA LIDERANÇA NA MARINHA DO BRASIL



Encerramento NAVAMAER/De Vito Fotos/Folha Militar OnLine - espírito de união e paz

 

CF(T) André Luiz Xisto Freire

Encarregado da Divisão de Recursos Humanos

Diretoria de Ensino da Marinha

e-mail: andre.freire@densm.mar.mil.br

  

RESUMO

Nas Forças Armadas, a importância da liderança nas Organizações é bastante evidente. A carreira militar caracteriza-se pela ascensão progressiva na hierarquia, e oferece a oportunidade de que todos possam atuar como líderes. A liderança, portanto, deve estar presente em todos os postos e graduações, tendo no Comando sua expressão máxima. Da mesma forma, o esporte é um fenômeno consagrado e praticado no meio militar, nas formas de desempenho, de preparação e de lazer, podendo ser uma ótima ferramenta para o desenvolvimento da liderança na Marinha do Brasil (MB). Este artigo tem como propósito  identificar os atributos que podem ser desenvolvidos por meio do esporte e, a partir daí, mostrar a contribuição para o exercício da liderança, propondo sua utilização de forma mais ampla, sob a perspectiva da formação do militar, como uma das atividades do programa de Treinamento Físico Militar, voltada para o desenvolvimento dos atributos de liderança.

Palavras-chave: Liderança; Atributos de Liderança; Esporte.

 

1 INTRODUÇÃO

 Ao longo do tempo, a liderança tem recebido uma crescente atenção, seja no meio empresarial ou nas Forças Armadas, por ser um dos instrumentos mais importantes para o sucesso de uma Instituição. Este tema tem sido objeto de debate no âmbito da Marinha do Brasil (MB) por meio de seminários, simpósios e fóruns de discussão permanente, sendo motivo de constante preocupação dessa Força, expressa nas Orientações do Comandante da Marinha (ORCOM 2015), onde se busca, dentre outras coisas, incentivar a produção e a inserção de trabalhos sobre o tema e fomentar a participação nos fóruns de discussão permanente.

Conforme estabelecido pela Doutrina de Liderança da Marinha (BRASIL 2004), o exercício da liderança na MB deve ser realizado de forma contínua, e todos os militares devem ser incentivados a aprimorar sua capacidade de liderança, na busca de uma constante evolução técnico-profissional.

Seleção Brasileira feminina/J.O Atlanta (EUA) dois anos depois do histórico título do Campeonato Mundial da Austrália (Divulgação) - superação, paixão, espírito de união, etc...

Da mesma forma, o esporte é tido como um dos mais importantes fenômenos socioculturais do século XXI (TUBINO, 2010). Segundo esse autor, o esporte tem merecido uma atenção especial por parte de diversos segmentos da sociedade, fazendo com que se torne cada vez mais uma das prioridades do mundo atual. Por meio dele, valores éticos e morais, como a socialização, a cooperação, a solidariedade, a disciplina, o espírito de equipe e tantos outros, fundamentais na formação integral do ser humano, podem ser trabalhados e desenvolvidos

Do ponto de vista das relações de liderança, vários são os aspectos observados na prática esportiva, que ajudam na formação e no preparo do indivíduo, contribuindo para o desenvolvimento dos atributos de um líder militar, principalmente no que se refere ao trabalho em grupo. Dentre estes aspectos, pode-se destacar a disciplina, o espírito de equipe e o exemplo. Além disso, existem outros atributos presentes nas relações de liderança que podem ser desenvolvidos através do esporte, como a capacidade de decisão, a coragem e o respeito, conforme será visto no desenvolvimento deste artigo.

Neste contexto, o objetivo deste artigo é estabelecer uma relação do esporte com o exercício da liderança na MB, identificando os atributos que podem ser desenvolvidos por meio da sua prática.

Dessa forma, pretende-se mostrar que o esporte pode ser utilizado de forma mais ampla, sob uma perspectiva de formação, como uma importante ferramenta no preparo e aperfeiçoamento do líder, se praticado de forma rotineira.

Este artigo não pretende esgotar o assunto, mas sim contribuir para que os benefícios do esporte nas relações de liderança possam ser mais amplamente debatidos na MB, com o intuito de se buscar uma mudança de paradigma e fazer do esporte uma importante ferramenta para o desenvolvimento da liderança, e não apenas uma alternativa ao TFM.

   2 O ESPORTE NA MARINHA DO BRASIL

Nas últimas décadas do século XX e início do século XXI, o esporte militar passou a ter uma maior importância (CANCELLA, 2011). Segundo a autora, as organizações esportivas militares passaram a ocupar um lugar de destaque no cenário esportivo mundial, bem próximo das grandes organizações desportivas de alto nível. Da mesma forma, seus torneios e campeonatos foram sendo inseridos com maior frequência no campo dos Megaeventos Esportivos. O Brasil, em 2011, sediou o maior evento do desporto militar mundial: os V Jogos Mundiais Militares – Os Jogos da Paz[1], que foram realizados na cidade do Rio de Janeiro. A MB participou com seus atletas e membros das Comissões Técnicas, compondo a Delegação Militar Brasileira que conquistou, de forma inédita, o primeiro lugar no quadro geral de medalhas do evento.

 

Guilherme Murray, esgrimista brasileiro recebeu o prêmio internacional de fair play - atitude honesta durante torneio em 2014. Foto: Ivo Lima/ME

2.1 Aproximações iniciais

Na Marinha do Brasil, o esporte teve origem com a chegada da Academia Real dos Guardas-Marinha na cidade do Rio de Janeiro, atual Escola Naval, onde inauguraram em 1808 os estudos superiores no Brasil. Nesta instituição de formação militar, os oficiais recebiam aulas teóricas das disciplinas acadêmicas, aulas práticas das artes do marinheiro, exercícios militares e embarques. Dentre as atividades que tinham o sentido esportivo, havia aulas práticas de manejo de armas brancas e de fogo, equitação e navegação em embarcações a vela, inicialmente com vistas ao desenvolvimento das habilidades necessárias para o serviço militar no período. Realizavam-se também apresentações lúdicas e encontros onde tais habilidades eram demonstradas, mas ainda sem formalização de competições. (GARRIDO e LAGE, 2005)

As preocupações com a higidez física para as atividades do cotidiano militar já estavam presentes nas escolas de formação de oficiais, sendo intensificadas na segunda metade do século XIX com a obrigatoriedade das práticas de atividades, como esgrima, ginástica e natação nos seus cursos. Na ocasião, houve uma aproximação dos militares com atividades que possibilitavam o desenvolvimento de habilidades importantes para o exercício militar que, posteriormente, passariam a ser realizadas também em caráter esportivo como a equitação, a esgrima e a natação (CANCELLA, 2011).

A introdução das atividades esportivas na rotina dos militares da MB iniciou-se com as primeiras competições de remo realizadas na Enseada de Botafogo-RJ em 1862. A partir daí várias regatas foram realizadas, destacando-se a Regata Imperial em Rio Grande (RS), com a presença do Imperador D. Pedro II, realizada em 1865, para comemorar a rendição do General Estigarriba durante a Guerra do Paraguai (LICHT et al, 2005).

Outro esporte que teve participação direta dos militares da Marinha do Brasil na sua organização foi a vela, praticada desde o século XIX como forma de treinamento das habilidades navais. Em 1906 criou-se o primeiro clube desta modalidade, o Yacht Club Brasileiro, tendo como seu primeiro Comodoro o Ministro da Marinha Almirante Alexandrino Faria de Alencar, que criou uma competição de vela com o seu nome para chamar a atenção dos jovens praticantes do esporte para as coisas do mar (GARRIDO, 2007).

Segundo o autor, a Marinha do Brasil teve um papel importante na disseminação do esporte entre os militares da Força com a formação de equipes representativas nas modalidades de esgrima, natação, remo e vela, organizando regatas e participando ativamente de competições com seus oficiais e praças, que passaram a se envolver na prática esportiva competitiva.

Martine e Kahena celebram o título no evento-teste da vela, na Baía de Guanabara. Foto: Gabriel Heusi/Brasil2016.gov.br - determinação, fogo sagrado, etc...


Verifica-se, portanto, que na Marinha, desde as primeiras aproximações, ocorridas na primeira metade do século XIX, o esporte esteve presente em diversos momentos, seja na formação dos jovens oficiais, na organização de competições ou, até mesmo, na formação de equipes representativas para a sua disseminação entre os militares da MB.

 

2.2 A situação atual na Marinha do Brasil

Atualmente, cabe ao Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais formular as diretrizes para as atividades de Educação Física e Desportos na Marinha do Brasil, por meio das Normas sobre Treinamento Físico Militar, Teste de Avaliação Física e Teste de Suficiência Física na Marinha do Brasil (CGCFN-15) e do Código Desportivo da Marinha (CGCFN-14), respectivamente, assessorado pela Comissão de Desportos da Marinha (CDM)

Todos os anos, o Comandante da Marinha (CM) publica um documento de referência para o planejamento em alto nível da MB. As Orientações do Comandante da Marinha (ORCOM) transmitem à Instituição suas orientações com base na determinação de necessidades de âmbito administrativo. Esse documento expressa a vontade política do CM, instituindo, dentro do planejamento estratégico de longo prazo, as prioridades para o exercício que se inicia.



Foto: Divulgação/ADD/Agência Brasil - tenacidade (garra), espírito de luta (vontade de vencer), etc...

Este artigo aborda somente as orientações voltadas para o setor de pessoal, com ênfase na prática da liderança, e as referentes ao esporte, caracterizado pela Educação Física e Competições Esportivas, estando o TFM inserido neste contexto.

Em síntese, as Orientações do Comandante da Marinha (ORCOM 2015) para assuntos afetos à liderança estão, basicamente, direcionadas para as medidas de incentivo ao desenvolvimento da liderança pelos Suboficiais (SO) e Sargentos (SG), assim como a participação nos fóruns de discussão permanentes e o incentivo à produção de trabalhos sobre o tema. Este último vai ao encontro de um dos objetivos deste artigo que pretende promover uma mudança de paradigma quanto à forma de desenvolver os atributos de liderança, propondo a utilização do esporte como mais uma ferramenta disponível para melhorar o desempenho do líder.

Por outro lado, as orientações estabelecidas para os assuntos afetos à Educação Física estão voltadas para o incentivo e a priorização da prática de TFM em toda a MB, cuja finalidade é possibilitar uma adequada preparação para o Teste de Aptidão Física, além da participação em competições esportivas de equipes representativas da Marinha, com o objetivo de mantê-las em alto nível de rendimento e de bem representar a Instituição nas áreas esportivas.

Segundo publicação do Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais (BRASIL, 2011), utilizada como referência para o TFM, a prática de esporte na MB, embora contribua para o condicionamento físico dos praticantes, não faz parte dos programas de TFM, cabendo aos titulares de OM a responsabilidade por baixar normas relativas à prática desportiva recreativa em suas organizações, de forma que esta não seja priorizada em detrimento do cumprimento do programa de TFM.

No entanto, de acordo com Garrido e Lage (2005), a Marinha possui 365 instalações esportivas distribuídas pelos nove Distritos Navais, sendo 30 quadras de areia, 14 ginásios, 60 campos de futebol, 27 pistas de atletismo, 132 quadras poliesportivas, oito quadras de tênis, 41 piscinas e 53 campos de futebol society. Com isso, verifica-se a possibilidade da prática de atividades esportivas por todos os militares da MB.


Laura Nascimento e o seu treinador Carlos Aveiro/NETVASCO/Divulgação. Um técnico de seleção brasileira - LPO, um exemplo de: abnegação, tenacidade, zelo, fogo sagrado, etc... 

Embora não esteja inserido no programa de TFM, o esporte é praticado por uma parcela significativa de militares, de forma voluntária, em diversas OM. Isso ocorre em virtude do esporte possibilitar além da melhora no condicionamento físico, uma maior interação entre os seus praticantes.

Neste contexto, o que se pretende com esta pesquisa é mostrar que as atividades esportivas favorecem também a interação e a sociabilidade. Em outras palavras, potencializam várias competências essenciais para o bom exercício da liderança, como disciplina, excelência, comprometimento, responsabilidade, ousadia e determinação, sendo uma importante ferramenta e uma ótima opção de desenvolvimento destes atributos para todos os militares da MB.

Desta forma, propõe-se que o TFM seja compreendido como um conjunto de atividades físicas que englobe, dentre outras coisas, o esporte em todas as suas manifestações, permitindo, assim, que o militar da MB possa desenvolver não somente o condicionamento físico, mas os atributos de liderança.

 

3 O ESPORTE COMO FERRAMENTA PARA DESENVOLVER LIDERANÇA

        Nas relações de liderança, vários são os atributos do líder que podem ser desenvolvidos por meio das práticas esportivas. A seguir, analisaremos alguns atributos, e de que forma podem ser desenvolvidos por meio do esporte:


CAPACIDADE DE DECISÃO

A tomada de decisão está presente em todos os momentos na vida do ser humano, e no esporte não é diferente. Durante a prática de esportes, os jogadores estão constantemente tomando decisões quanto ao melhor emprego de uma determinada ação mediante as diferentes situações que se apresentam.

             Foto: Divulgação CBB

Assim, quando se pratica um esporte durante o horário de TFM, é comum observar um jogador em uma partida de futebol que se vê diante de uma jogada onde ele pode optar entre chutar em direção ao gol ou passar a bola para um companheiro melhor colocado. Da mesma forma, observa-se um jogador em uma partida de vôlei escolhendo a melhor maneira de efetuar um saque, com o propósito de causar dificuldades ao adversário. Também é possível observar, num jogo de basquete, os jogadores tomando decisões quanto à execução de um passe ou de um arremesso à cesta.

Desta forma, em cada um desses esportes, é a capacidade de decidir que fará com que os jogadores escolham a melhor opção em busca de um objetivo. Esta capacidade é desenvolvida de forma bastante intensa durante os jogos, pois são vários os momentos em que será preciso tomar uma decisão quanto à ação a ser empregada.


CORAGEM

É a capacidade de superar momentos de temor ou situações difíceis. A coragem nada mais é do que a superação do medo. Nas relações de liderança, se apresenta de duas formas: coragem física – superação do medo ao dano físico no cumprimento do dever e coragem moral – disposição para defender crenças e desafiar os outros, baseado em valores e princípios morais, admitir erros e mudar o próprio comportamento quando preciso, mesmo que esse ato contrarie os próprios interesses.


Foto: Divulgação/Embaixadora ONU

No esporte, várias são as modalidades que desenvolvem a coragem física. A escalada é uma delas. Apesar de não ser uma modalidade muito difundida no meio militar, sua versão indoor é de fácil implantação na MB. Além de ser uma ótima opção esportiva, auxilia na superação de obstáculos e desafios.

Quanto à coragem moral, esta pode ser desenvolvida em qualquer esporte, pois está relacionada a valores e princípios morais que são inerentes ao esporte, principalmente quanto às mudanças de comportamento.


DISCIPLINA

Nas relações de liderança, a disciplina é definida, segundo a publicação Estado- Maior da Armada (BRASIL, 2004) como a capacidade de se conduzir dentro das normas e regulamentos mesmo quando não estiver sendo observado ou quando suas ideias e concepções pessoais forem contrárias. É um processo contínuo, que precisa ser construído todos os dias para que se possa alcançar um objetivo.

Ultramaratona Rio 24h Fuzileiros Navais/CEFAN

No esporte, a simples observância das regras de um jogo é uma das formas de se desenvolver a disciplina. O cumprimento de uma rotina de treinos, com o objetivo de melhorar o desempenho, também pode ser uma forma de desenvolver a disciplina. Como exemplo, podemos citar um iniciante da corrida de rua, um esporte que vem crescendo muito nos últimos anos no âmbito da MB. A corrida dos Fuzileiros Navais, a Ultramaratona Rio24h dos Fuzileiros Navais e a corrida do Corpo de Intendentes são exemplos de como este esporte tem atraído cada vez mais adeptos. O praticante desta modalidade precisa cumprir uma rotina de treinamento para que possa, aos poucos, melhorar seu desempenho nas competições. Dessa forma, o esporte torna-se uma ótima ferramenta para o desenvolvimento deste importante atributo de liderança.


ESPÍRITO DE COOPERAÇÃO

Este atributo está diretamente ligado ao espírito de equipe, pois se refere à capacidade do indivíduo de trabalhar em grupo em busca de um objetivo comum. Quando se trabalha em grupo é preciso que haja uma coesão, onde cada elemento do grupo saiba exatamente o seu papel.

 Instituto Janeth (Foto: Divulgação) - cooperação,  responsabilidade social (resgate de valores éticos, morais e sociais), etc...



Usain Bolt e PROFESP/MB/Folha Militar Online/Divulgação/2016 - cooperação, responsabilidades social (resgate de valores éticos, morais e sociais), etc...  


Nos esportes coletivos, como o basquetebol, o futebol e o voleibol, que podem ser praticados nos horários do TFM, o trabalho em equipe fica bastante evidente, pois cada componente da equipe desempenha uma ou mais funções específicas em prol de um mesmo objetivo. É preciso que haja cooperação de todos os integrantes da equipe para um melhor desempenho de uma determinada tarefa.

No voleibol, por exemplo, o levantador só conseguirá distribuir a bola com eficiência se receber um bom passe. O atacante só efetuará um bom ataque se o levantador lançar a bola com eficiência. Desta forma, todos os membros da equipe devem contribuir para conquistarem uma vitória. Da mesma forma, no futebol cada integrante da equipe tem uma função dentro do jogo, como a do goleiro e dos jogadores de defesa que têm a tarefa de evitar o gol da equipe adversária, assim como a dos atacantes que têm a tarefa de fazer o gol. Para obterem sucesso no jogo, é preciso que todos os integrantes da equipe cooperem uns com os outros, valorizando o trabalho em equipe.

Novamente, o esporte aparece como uma ótima opção para o desenvolvimento de um atributo de liderança, uma vez que os jogos coletivos exercitam o espírito de equipe.


EXEMPLO

Pela Doutrina de Liderança da Marinha (BRASIL, 2004), o exemplo se materializa pelo comportamento do líder, pleno de valores inerentes à ética militar, aceitos e respeitados pelo grupo.

   

O maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima ganhou a medalha de bronze nos Jogos de Atenas, em 2004 -Washington Alves/COB/Agência Brasil - esportividade, patriotismo, pertencimento, etc...

O esporte pode formar na pessoa, desde criança, conceitos fundamentais de que é preciso ser honesto e de que, nem sempre, você sairá vitorioso na vida, desde que ensinado de forma correta. O jogo é uma ferramenta muito importante para a formação do caráter, desde o respeito às regras, passando pelo respeito ao adversário e culminando com a aceitação do resultado, seja ele qual for. Esse é um atributo presente no esporte desde o princípio, mas que, ultimamente, vem sendo pessimamente trabalhado pelo que deve ser o exemplo para os outros, que é o esporte de alto rendimento, profissional.

Na MB, quando se pratica esportes nos horários do TFM, tem-se a oportunidade do desenvolvimento deste importante atributo de liderança, respeitando-se as regras do jogo, os adversários, e aceitando o resultado de uma partida de forma pacífica, mesmo quando este for uma derrota.

Destaca-se a importância do profissional de educação física, seja militar ou professor, que terá papel fundamental na condução das atividades.


RESPEITO

É um dos valores mais importantes do ser humano. O respeito impede que uma pessoa tenha atitudes reprováveis em relação à outra. O respeito também pode ser um sentimento que leva à obediência ou ao cumprimento de algumas normas. A continência é um dos exemplos de respeito na relação entre militares.


Equipe brasileira feminina de revezamento 4x100 livre ao receber a medalha de bronze no Pan de Toronto/BBC NEWS/BRASIL  - continência, ação relacionada a símbolos, tradições e rituais -  (patriotismo, lealdade, fidelidade, honra, etc...)

No esporte, este atributo fica bastante evidente na medida em que existe a necessidade de se respeitar as regras estabelecidas para cada modalidade, bem como os adversários envolvidos numa disputa.

Desta maneira, a prática de esportes na MB contribui para o desenvolvimento deste importante atributo de liderança.

Mais uma vez, ressalta-se a importância do profissional de educação física, militar ou professor civil, que servirá de mediador entre os praticantes, fazendo cumprir as regras do jogo.

Das análises realizadas acima, pode-se inferir que o esporte possui um grande potencial para desenvolver atributos de liderança, seja através de uma partida de futebol, ou de um jogo de vôlei ou basquete, como também pela prática de um esporte individual, como a corrida ou a natação, pois assim como ocorre no ambiente militar, busca-se o desempenho, a solução de problemas, o cumprimento de prazos, o respeito às regras e ao próximo, a superação de desafios e o trabalho em equipe.

A utilização do esporte para o desenvolvimento da liderança na MB poderá ser mais uma das ferramentas colocadas à disposição dos militares. O esporte apenas atuará, como em todas as relações que existe entre o ser humano e ele, exercitando ou desenvolvendo as capacidades já existentes. A utilização do esporte no desenvolvimento da liderança deve ser visto como uma opção ao líder na busca de motivação para melhorar o seu desempenho dentro da sua OM, no sentido pessoal, pois a partir dos primeiros resultados percebidos em seu corpo, no estado de humor e na saúde, tudo será refletido também no seu desempenho profissional. Como consequência, contagiará os demais companheiros de trabalho, sendo o líder um incentivador da prática esportiva aos seus subordinados e uma referência na sua OM.

Imagem-Alexandre-Loureiro-COB-1 (1) Pan - Lina/2019 - celebração, espírito de sacrifício, abnegação, honra, fogo sagrado (paixão, fé, entusiasmo), etc....

Assim, será possível comprovar que nesta parceria entre o esporte e o desenvolvimento da liderança há muitas possibilidades e oportunidades de sucesso, tanto para a MB quanto para as pessoas especiais que são os seus militares.

 

4 CONCLUSÃO 

Ao longo deste artigo, pôde-se observar que os valores desenvolvidos no esporte se assemelham aos atributos de liderança necessários ao aprimoramento do líder e podem contribuir para melhor preparar o cidadão, em especial o militar da MB, no enfrentamento dos desafios que se apresentam na vida pessoal e profissional.

A Marinha do Brasil mantém uma constante preocupação com o desenvolvimento dos atributos de liderança. Para isso, procura empregar todos os recursos necessários, visando a melhorar o desempenho do seu pessoal diante das mais variadas situações existentes em uma organização militar, onde o líder tem o poder de decidir, mudar e adaptar-se às circunstancias, ou seja, colocar em prática a sua capacidade de liderar.

Dessa forma, o esporte pode ser mais um recurso utilizado na busca do desenvolvimento de atributos do líder, por se tratar de uma atividade onde as ações realizadas são semelhantes às do militar da MB no desempenho de suas tarefas, no sentido de estar diante de desafios, atingir metas, trabalhar em grupo, assumir riscos, estar motivado, melhorar o desempenho, ser persistente e ter comprometimento.

O esporte potencializa várias competências essenciais para o bom exercício da liderança, como disciplina, excelência, comprometimento, responsabilidade, ousadia, e determinação, sendo uma importante ferramenta e uma ótima opção para o desenvolvimento destes atributos para todos os militares da MB.

Assim, é possível que o esporte, em todas as suas manifestações, seja visto como uma atividade integrante do programa de TFM das organizações militares da MB e praticado de forma orientada profissionalmente, para que possa ser utilizado de forma mais ampla, não somente como um meio de se obter condicionamento físico, mas sob a perspectiva da formação do militar, como uma ferramenta de desenvolvimento dos atributos de liderança.

 

5 REFERÊNCIAS

BRASIL. Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais. CGCFN-15: normas sobre treinamento físico militar, teste de avaliação física e teste de suficiência física na Marinha do Brasil. Rio de Janeiro, 2011.

BRASIL. Marinha. Circular nº. 02 de 9 de abril de 2015. Brasília, DF, 2015. Orientações do Comandante da Marinha para 2015.

BRASIL. Estado-Maior da Armada. EMA-137: doutrina de liderança da Marinha. Brasília, DF, 2004.

CANCELLA, Karina Barbosa. O esporte e a Marinha do Brasil: primeiras aproximações e a institucionalização da prática esportiva através da criação da Liga de Sports da Marinha. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA- ANPUH, 26, São Paulo. Anais...São Paulo, jul. 2011. 17p.

FRANÇA, Júnia Lessa; VASCONCELLOS, Ana Cristina. Manual para Normalização de Publicações Técnico-Científicas. 8.ed. rev. e ampl. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. 255p.

GARRIDO, Fernando Antônio. A Regata Escola Naval: do lazer à performance, um grande espetáculo. Revista de Villegagnon – Revista Acadêmica da Escola Naval, Rio de Janeiro, v.2, n.2, p.80-86, 2007. Disponível em: https://www. mar.mil.br/en/revistas_villegagnon.html. Acesso em 22 jun. 2014.

GARRIDO, Fernando; LAGE, Ângela. O esporte na Marinha do Brasil. In: Da Costa, L.P. Atlas do Esporte do Brasil. Rio de Janeiro: Shape, 2005. p.131-133.

LICHT, Henrique et al. Remo. In: Da Costa, L.P. Atlas do Esporte do Brasil. Rio de Janeiro: Shape, 2005. p.213-215.

TUBINO, Manoel José Gomes. Estudos Brasileiros Sobre o Esporte: ênfase no esporte-educação. Maringá: Eduem, 2010. 163p.

 



[1] Os Jogos Mundiais Militares, idealizados pelo Conseil International du Sport Militaire (CISM), instituição regulamentadora internacional do esporte militar fundada em 1948, ocorrem a cada quatro anos, no ano anterior ao dos Jogos Olímpicos de Verão. Sua primeira edição ocorreu em 1995, em Roma (ITA), com a última, em 2015, em Mungyeong (KOR).


*  fotos fazem não fazem parte do trabalho original

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