"Canoagem
Oceânica: valores e
tradições na formação militar!"
Primeiro-Tenente (RM2-T)
Renata Aparecida Corteze Esteves
Os historiadores alegam que a origem das atuais canoas vem dos egípcios no séc. XV a.C. e mais tarde dos astecas nos séculos III a IX d.C, que usavam embarcações propulsionadas com pás. Porém, a grande corrente doutrinária afirma que foi no século XVI, o registro das atuais concepções de canoas e caiaques utilizadas na América do Norte.
As canoas, embarcações construídas com madeiras e peles, consideradas leves e rápidas próprias para enfrentar os rios canadenses repletos de corredeiras, eram utilizadas pelos índios no interior do continente. Já os caiaques, formados por uma estrutura de madeira revestida com pele de foca e calafetada com a gordura das articulações destes animais, eram usados pelos esquimós para pescar e como transporte entre dois pontos da costa.
Além de usarem as versões individuais de caiaques, chamados de inuits, semelhantes aos caiaques modernos, eles também usavam os umiaqs, que eram caiaques maiores que conseguiam transportar famílias inteiras e suas posses. Alguns dos umiaqs atingiam até 18 metros de comprimento. Os caiaques menores eram usados, primordialmente, para a caça, porque eram furtivos e podiam se aproximar de animais desprevenidos, na costa ou no mar. A palavra caiaque significa “bote de caçador”.
Em cada continente ou região as sociedades fazem as necessárias mudanças, aperfeiçoamentos e adaptações para adequar seus barcos ao ambiente em que vivem. Algumas canoas são construídas a partir de um tronco de árvore cujo miolo é retirado com o uso de ferramentas rudimentares ou do fogo. Outras, como as de alguns índios brasileiros, são construídas de cascas de árvores como o jatobá. Já os polinésios, usam um tronco devidamente ocado ao qual fixam um flutuador lateral resultando numa embarcação semelhante aos modernos catamarãs.
Os caiaques chegaram a Europa na primeira metade do séc. XIX, em forma de botes com laterais flexíveis. Os franceses e alemães logo começaram a utilizá-los para fins esportivos. Os caiaques também mantiveram seus usos práticos pelos exploradores do Polo Norte e do Polo Sul, que os levavam consigo em suas expedições.
No começo do Século XIX, inspirados nas embarcações acima descritas, os ingleses começaram a utilizar para lazer uma embarcação chamada de “gronelandais”. Este barco deu início aos formatos modernos de caiaques e canoas. Em pouco tempo, esta embarcação propulsionada com remos contendo duas pás, tornou-se febre na Alemanha e em outros países da Europa Central.
Segundo a Fédération Québécoise de Canoë-Kayak d'Eau Vive (
http://ecoroute.uqcn.qc. ca/ecot/bdd/act/index.htm) o caiaque chegou à Europa levado por um escocês de nome John McGregor. Diz a Fédération que o escocês não levou propriamente um caiaque para lá, mas construiu um exemplar em cedro com estrutura e formato muito semelhantes ao original norte-americano. Diz, ainda, que o primeiro clube de caiaques foi fundado em 1873 na Inglaterra e recebeu o nome de Royal Canoe Club.
Jonh Mc Gregor, advogado escocês, é considerado o primeiro a utilizar o caiaque em percursos desportivos (rios e lagos europeus). Desenhou seu próprio barco que batizou de “ROB ROY” e realizou com ele várias expedições cujas memórias resumiu mais tarde no livro “Um millier de miles dans lê canoe Rob Roy”. A primeira regata conhecida ocorreu na Bélgica no ano de 1877.
Em 1931, um homem chamado Adolf Anderle foi o primeiro canoísta a descer de caiaque as corredeiras de Salzachofen.
Hoje, os modernos caiaques e canoas são construídos em resina de poliéster reforçada com fibra de vidro, em sua maioria, ou mesmo em resina epóxi com kevlan ou fibra de carbono, e ainda plástico injetado ou rotomoldado – polietileno, e são descendentes diretos das embarcações primitivas encontradas em todos os continentes.
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Renata Aparecida Corteze Esteves
Militar RM2 da Reserva da Marinha do Brasil; Pós-graduada em treinamento desportivo-UFRJ- CCFEX;
Membro da AEA- Aquatic Exercise Association; Especialista em Canoagem pela Cbca- Confederação Brasileira de Canoagem e COB-Comitê Olímpico Brasileiro;
Instrutora de Canoagem e Personal trainer/empresa Treinar.
Contato e-mail: personalrenataesteves@hotmail.com e (21) 99131-1750
Alguns dos primeiros fatos históricos
A canoagem adquiriu o seu espírito de nobreza quando participou dos famosos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, mantendo-se, desde então, no cenário olímpico na modalidade Velocidade.
Novamente na Alemanha, nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972, a modalidade "Slalom" (águas brancas) apareceu como esporte de demonstração. Vinte anos depois nos Jogos Olímpicos de Barcelona e nos Jogos de Atlanta, o slalom teve sua presença válida no quadro de medalhas.
No Brasil, provavelmente existiram outros pioneiros na canoagem, contudo, a dificuldade de recuperar essas informações reduzem a nossa história a poucas linhas.
Início da canoagem no Brasil
No Brasil, a canoagem surgiu como prática esportiva informal no ano de 1943, através do Sr. José Wingen, imigrante alemão nascido em 1915. Ele residiu em Porto Alegre, e em 1941 mudou-se para a cidade de Estrela, banhada, pelo Rio Taquari, onde decidiu construir uma embarcação de madeira parecida com as que ele utilizava durante a sua infância quando competia pelo Kanu Club da Alemanha. Dessa forma surgiu o primeiro caiaque na região e no país, denominado de "regata", que despertou um enorme interesse pela atividade na comunidade local.
Posteriormente, segundo o próprio Sr. José Wingen, a canoagem sofreu com a falta de infraestrutura, desestimulando os praticantes, que acabou tendo o seu mais duro golpe com a construção da represa de Bom Retiro, levando a canoagem nacional a um momento de estagnação e descontinuidade (IMBRIACO, 2001).
Somente em meados da década de 70 / 80, a canoagem nacional foi retomada com a chegada dos primeiros caiaques em fibra de vidro trazidos da Europa e da Argentina. Tais embarcações, serviram como molde para a construção dos primeiros caiaques nacionais em resina de poliéster reforçada com fibra de vidro e fibra de carbono (IMBRIACO, 2001; ROBBA, 2001).
A Canoagem Oceânica
A Canoagem Oceânica é uma das modalidades da Canoagem que é praticada no mar, com embarcações e equipamentos específicos que permitem ao canoísta, uma navegação segura e tranquila. Nesta modalidade esportiva, os barcos são classificados de acordo com o seu comprimento, largura e peso, sendo enquadrados nas classes: classe I oceânicos e classe II turismo. A classe I é dividida em classe I individual, classe I duplo, sendo caracterizada por barcos mais instáveis e velozes. Já a classe II, é caracterizada por barcos mais estáveis e lentos.
Barcos CLASSE I - Possuem comprimento mínimo de 4,61m;
. Largura mínima de 45cm no anel (aro) e peso mínimo para:
. Individuais - 15kg
. Duplos – 20kg.
Barcos CLASSE II - Comprimento mínimo de 4,00m e máximo de 4,60m;
. Largura mínima de 50cm
. Peso mínimo de 15kg.
O mar com suas características imprevisíveis, que variam e sofrem influências de acordo com as condições do tempo, obriga o canoísta a executar um planejamento que o assegure uma navegação que permita realizar a prática da modalidade esportiva e ao mesmo tempo, usufruir da auto propulsão com segurança.
A equipe de canoagem da oceânica da Escola Naval
A Escola Naval, instituição de ensino superior mais antiga do país e responsável pela formação dos futuros Oficiais da Marinha do Brasil procura desenvolver uma mentalidade marítima na população, incentivando atividades que desenvolvam o respeito e o amor pelo mar.
A Equipe de Canoagem Oceânica da Escola Naval tem sua origem nas tradicionais canoas canadenses, embarcações estas, rústicas, que admitem até dois remadores. Nessas canoas, os aspirantes participavam de pequenas competições internas mais voltadas para o lazer.
A partir da aquisição do primeiro caiaque, e influenciado pelo, hoje, Aviador Capitão-de-Fragata AVELAR, surgiu a ideia de se formar um grupo com os melhores remadores para as competições fora da Escola Naval. Este, foi o ponto de partida para a formação da nossa Equipe, que contou inicialmente com as orientações da ex-atleta e técnica Simone Duarte Miranda e posteriomente com as orientações do atleta e técnico, especialista em Canoagem pela CBCa, Confederação Brasileira de Canoagem, Gustavo G. Wesgueber. Essa fase teve seu ápice, em 1989, quando foi incorporada à tradicional Regata da Escola Naval, a 1ª Meia Maratona de Canoagem Oceânica de Villegagnon.
A Meia Maratona de Canoagem Oceânica de Villegagnon é uma prova que visa aproximar os Aspirantes e os canoístas das diversas associações do país, buscando uma confraternização entre os atletas da canoagem oceânica, que aliando tenacidade, sacrifício e entusiasmo, bem definem o espírito do nauta. É também, evento integrante da REGATA ESCOLA NAVAL, a maior regata a vela e evento náutico da América Latina, na qual participam centenas de embarcações de diversos estados do Brasil e também de outros países.
Hoje, a Escola Naval, conta com as orientações da técnica 1ºT(RM2-T) Renata Aparecida Corteze Esteves, pós-graduada em treinamento desportivo e especialista em Canoagem pela CBCa, Confederação Brasileira de Canoagem e COB- Comitê Olímpico Brasileiro, possui a maior delegação da Canoagem Oceânica da Cidade do Rio de Janeiro participando de diversas competições em âmbito Estadual e Nacional e apresentando resultados expressivos nesta modalidade.
No nosso calendário constam as seguintes competições: “ 1ª,2ª e 3ª Etapas Copa Brasil de Canoagem Oceânica”; “Copa Brasil de Canoagem Maratona”; “Campeonato Brasileiro de Canoagem Oceânica”; “Travessia do Rio Araguaia ”,”Rio Boat Show”,”Regata Ratier”," Regata de Canoagem Oceânica do Colégio Naval" e a tradicional ”Meia Maratona de Canoagem Oceânica de Villegagnon”, que este ano realiza sua 25ª edição. Os aspirantes representantes da Equipe de Canoagem Oceânica da ESCOLA NAVAL que se destacaram nas competições acima citadas de 2011 até então, são: MARQUES, BELQUIOR, ALMIR FREIRE, FERREIRA, FRUTUOSO, RAMIRES, LIMA CARDOSO, RAFAEL ROIFFÉ, GOMES ALMEIDA, COPETTI, RAFAEL AMARAL, LEONE, GIAN LUCAS, GODINHO, ERIC DUTRA, SAMUEL, LUCAS AMARAL, RABHA e GUILHERME JESUS. Estes dois últimos citados, com muita dedicação e empenho nos treinamentos e amor ao esporte, conquistaram o 3º LUGAR na classe I duplo oceânico, categoria sênior do CAMPEONATO BRASILEIRO DE CANOAGEM OCEÂNICA de 2014 que ocorreu em Vitória (ES), fazendo jus a bolsa atleta para o ano de 2015, conquistando assim uma vaga no CAMPEONATO MUNDIAL DE CANOAGEM OCEÂNICA em 2015, que ocorrerá na FRANÇA e colocando em destaque a ESCOLA NAVAL e a MARINHA DO BRASIL.
Estas provas são caracterizadas por longa distância que demandam muita energia, força e resistência, e por isso os treinamentos da equipe são muito intensos, onde são aprimorados a resistência e a técnica de remada na água.
A Canoagem Oceânica é considerada por muitos, uma modalidade exaustiva que exige muito preparo, e por isso realizamos a preparação física na musculação, para evitarmos as lesões provenientes do esforço repetitivo, e nas corridas e natação, para melhorar a capacidade cárdio - respiratória e resistência.
Além dos treinamentos, a equipe realiza adestramentos com os sargentos carpinteiros da Formar (Departamento de Formação Marinheira), que os orientam na forma empregada na utilização dos materiais necessários para reparo e manutenção dos caiaques. BZ a todos os atletas da equipe que se dedicam em manter a Equipe forte e unida rumo a novas conquistas.
A importância da Rosa das Virtudes
Nos homens em comando, o caráter se revela no valor com que tomam suas decisões, na energia com que impulsionam as ações e na abnegação com que suportam os rigores do serviço e da guerra. Na vida marinheira, o caráter adquire traços especiais da influência do meio, dos hábitos de bordo, do amor que o homem do mar dedica a seu navio e à profissão, da necessidade de cooperação dentro de uma mesma embarcação e de navio para navio. Conhecer muito bem a profissão é indispensável, mas não suficiente para os que têm de comandar, dirigir e inspirar homens nas travessias perigosas, sob o mau tempo e no desenvolver das operações navais, sob a ameaça do inimigo, muitas vezes sequer avistado.
O caráter do Oficial de Marinha é, pois, formado por qualidades e disposições, por uma certa mentalidade e por traços especiais que cada qual deve aperfeiçoar em si próprio.
No seu conjunto, essas características compõem os dezesseis rumos da chamada “ROSA DAS VIRTUDES”, que enfeixa o Caráter Marinheiro.
Conclusão
A importância do mar para o Brasil mostrou-se decisiva ao longo da nossa história. Se hoje nos orgulhamos das vitórias que preservaram a integridade do nosso território e garantiram a coesão e a independência do nosso povo, muito devemos a agradecer às acertadas decisões que no passado permitiram o uso do mar segundo os nossos interesses.
Atualmente, a contribuição de diversas receitas econômicas extraídas do mar ou comercializadas por via marítima reforça a importância do seu uso para o futuro da Nação Brasileira, exigindo que a Marinha do Brasil esteja permanentemente preparada para a defesa dos nossos interesses no mar, cumprindo a nobre missão de formar jovens idealistas em profissionais qualificados para o exercício das funções de Oficiais nas Forças Navais e de Fuzileiros Navais e procurando desenvolver uma mentalidade marítima na população, incentivando assim, atividades que desenvolvam o respeito e o amor pelo mar.
Esta formação tem como alicerce os valores da Rosa das Virtudes e os valores que agregam o esporte como a disciplina, tenacidade, fogo sagrado, espírito de sacrifício, zelo. Este esporte especialmente, requer muita dedicação e acima de tudo amor, valores estes, que são difundidos e desenvolvidos na Equipe de Canoagem Oceânica, contribuindo assim para a formação deste futuro oficial que representará o Brasil em futuras missões e reforçando o potencial do atleta que existe em cada aspirante integrante da equipe, rumo a novas conquistas e vitórias no esporte.
Referências Bibliográficas
CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE CANOAGEM. História da Canoagem,1998. Disponível em: http://www.canoagem.org.br/pagina/index/nome/historia/id/12. Acesso em: 24 ago 2013.
DOUTRINA de Liderança da Marinha (EMA-137 Mod 1). Brasília: Estado-Maior da Armada, 2004.
ESCOLA NAVAL. Nossa Voga. Rio de Janeiro, 2009.
IMBRIACO, P. J. Técnica de remada em caiaque de velocidade. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Ed. Física) – Universidade de Santa Cruz, Santa Cruz, 2001.
MAGALHÃES, R. Trilhas do mar. Rio de Janeiro: Publit Soluções Editoriais, 2006.
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Renata Aparecida Corteze Esteves
Militar RM2 da Reserva da Marinha do Brasil; Pós-graduada em treinamento
desportivo-UFRJ- CCFEX;
Membro da AEA- Aquatic Exercise Association; Especialista em Canoagem
pela Cbca- Confederação Brasileira de Canoagem e COB-Comitê Olímpico
Brasileiro;
Instrutora de Canoagem e Personal trainer, e empresa Treinar.
Contato e-mail: personalrenataesteves@hotmail.com e (21) 99131-1750
* O texto é o original. A publicação foi na Revista Marítima Brasileira (RMB). Revista Acadêmica da Escola Naval. Rio de Janeiro: DPHDM. Ano IX Numero 9 - 2014, p.148 - 152.
** as fotos mais antigas da competição foram reposicionadas e algumas novas introduzidas no texto.
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