RAID NAVAL: A GESTÃO ESTRATÉGICA COMO CONDIÇÃO PROVEDORA DO DESENVOLVIMENTO DE SUAS MODALIDADES ESPORTIVAS


 



“Raid Naval, o 1º esporte de aventura criado no Brasil”

Fernando Antonio Cardoso Garrido1
Marcelo Pereira Marujo2
1º Tenente (RM2 – T) Thaiane Cavalcanti Couto3


Quando o esporte apareceu por aqui?
A sinergia – gestão e raid – converte-se numa condição capaz de prever e, sobretudo, prover todo processo estratégico factível de favorecer o desenvolvimento das mais variadas modalidades esportivas e suas respectivas complexidades.
Uma competição ousada como o Raid Naval carece de uma gestão na mesma dimensão. Portanto, a gestão estratégica busca demandar maior responsividade às suas iminentes e variadas demandas. A competição compreende uma corrida de aventura de, aproximadamente, 40 km e conta com quatro modalidades esportivas, como natação, corrida de orientação, cross-country e canoagem. Tais modalidades exigem dos competidores um considerável preparo físico, mental e psicológico.
Em geral, o Raid Naval é necessariamente realizado em áreas naturais, fator que proporciona aos competidores sempre desfrutarem das belezas naturais durante as provas e das rusticidades dos variados terrenos (areia de praia, pavimentação, trilhas em aclives e declives), condições que são convertidas em aliadas para o desenvolvimento da competição.
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1 Doutor em Ciências Navais pela Escola de Guerra Naval (EGN).
2 Pós Doutorado em Educação, Sustentabilidade e Responsabilidade Socioambiental pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
3 Licenciatura Plena em Educação Física pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

Diante do exposto, o Raid Naval busca também favorecer os participantes a empreenderem a cooperação e a amizade através do esporte. Ainda, procura materializar a vontade constante dos participantes de buscar a superação dos seus próprios limites, propiciando-lhes, assim, uma melhor higidez física e mental, em especial pelo contato com a natureza.
Para tanto, considera-se que a gestão estratégica faz-se necessária diante de toda complexidade, sobretudo, logística para tal aprovisionamento. Logo, todas as atividades precisam de minucioso planejamento, por se tratar em apoiar o maior dos recursos, o humano.
A gestão na sociedade contemporânea converte-se em condição estratégica para o desenvolvimento sustentável de atividades variadas. Portanto, todos os empreendimentos num mercado iminentemente dinâmico carecem de planejamentos mais complexos, para que todas as necessidades correspondam às proposições prévias.
Destarte, a gestão estratégica busca elaborar variantes capazes de orientar os processos de mudança organizacional em direção ao desenvolvimento e consequente sucesso competitivo. Sendo assim, ratifica-se a necessidade de a estratégia promover o desenvolvimento de planos, políticas e práticas para atingir os objetivos planejados.


Corrida na Marambaia

As atividades estratégicas, em termos de análise do ambiente organizacional, análise das condições internas e elaboração de recomendações, destacam o conjunto de atividades ou atribuições estratégicas geralmente identificadas no trabalho gerencial e distribuídas nas estruturas das organizações (PORTER, 2005).
Nessa dimensão, as variadas modalidades esportivas que compreendem o Raid Naval precisam ser inter-relacionadas, independentemente do contexto, nos níveis estratégico, tático e operacional, a fim de favorecer todas as alternativas planejadas pela gestão.
Numa visão historicizada, o Raid Naval surge a partir da leitura sobre uma prova de raid existente na Nova Zelândia e realizada por todo país. A partir daí, um Aspirante da Escola Naval, José Roberto Fernandes, idealizou uma competição de tal magnitude, buscando concretizar o espírito de superação de limites, peculiar dos militares.
Dessa forma, o Raid Naval surgiu da conjugação de várias provas de diversas modalidades esportivas comprometidas com a natureza e de características marinheiras. O seu emprego passava a servir de treinamento funcional na formação do futuro Oficial da Marinha do Brasil.
O Raid Naval, desde então, tornava-se o primeiro esporte de corrida de aventura criado e praticado no Brasil a testar os limites físicos, mentais e psicológicos do ser humano.
O Raid Naval, esporte das vertentes de aventura e derivado de outros esportes, realizou a primeira competição em Angra dos Reis – RJ (Colégio Naval), em 1991, com a presença de civis e militares distribuídos em 75 duplas, compostas por participantes do mesmo sexo. A primeira etapa da competição serviu para a seleção dos participantes da Escola Naval à etapa final, constando de provas de natação e corrida de orientação. Na segunda etapa, as 12 duplas selecionadas, sendo uma delas feminina, participaram de provas de natação no mar, canoagem, corrida de orientação (diurna e noturna) e de montanhismo. Os campeões, na ocasião, foram os militares José Ferreira Barros e João Manoel Franco.


Natação na Costa Verde

Ao longo de todos esses anos, o Raid Naval teve seu desenvolvimento voltado ao meio militar, sendo dirigido e organizado pelo Grêmio 1808 (Fuzileiros Navais), integrante da Sociedade Acadêmica Phoenix Naval (SAPN) da Escola Naval.
A SAPN, no decorrer dos anos, tem promovido o aumento do número de participantes no Raid Naval ao convidar representantes das escolas de formação das Forças Armadas, em especial da Marinha do Brasil, entre elas: a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), o Centro de Instrução Almirante Graça Aranha (CIAGA) e o Centro de Instrução Almirante Braz de Aguiar (CIABA).
O Raid Naval requer a seleção de um conjunto de provas das modalidades esportivas a serem disputadas. Logo, a escolha do local é feita em razão de ambientes naturais e de características geográficas diversas que permitam a prática de variados esportes, da disponibilidade dos meios envolvidos e da criatividade dos organizadores.
Diante de tais condições ambientais, a gestão estratégica passa a ser uma condição aliada e necessária para todo o planejamento prévio da competição e precipuamente para que todo o aprovisionamento seja responsivo às suscetíveis demandas e, ainda, que possa atender às variadas situações inesperadas que, geralmente, acontecem em competições desta natureza.
Assim, o Raid Naval necessita de considerável apoio operacional de segurança na realização da competição e de logística (médico, ambulância, fisioterapia, transporte e guarda de equipamentos etc.), tarefas que têm sido efetivadas com o suporte dado pelas Organizações Militares da Marinha do Brasil, base dos eventos, e pelos Aspirantes/atletas das equipes esportivas da Escola Naval.


                                                 Controle de passagem na Orientação

Em relação à manutenção dos atletas em atividade, é oferecido, em determinados pontos do percurso e/ou na troca de modalidades, o apoio necessário ao bom andamento dos mesmos na competição, como, por exemplo, alimentação balanceada e hidratação.
O Raid Naval, por promover a interação do homem-natureza, provoca mudanças de atitudes e de valores relacionados à sua prática, construindo novos relacionamentos e ética na sociedade, principalmente, com a natureza.
Nesse sentido, cria-se uma maior conscientização socioambiental (valorização de si próprio e da natureza). Isto produz um quadro de responsabilidade socioambiental em favor dos seus praticantes, em especial dos militares, que têm dentre suas atribuições constitucionais a proteção, a preservação e a conservação das nossas riquezas naturais. Da mesma forma, o Raid Naval possibilita o relacionamento das empresas com o discurso da responsabilidade e do marketing socioambiental.
O Raid Naval teve a sua XIX edição realizada em 25 de maio de 2013, na região da Ilha da Marambaia, na Costa Verde do Estado do Rio de Janeiro. A competição contou com a presença de 50 duplas masculinas e femininas, integradas por atletas de Forças militares e auxiliares.
Nessa edição, pela primeira vez, o Raid Naval contou com a presença de um maior número de duplas de atletas civis universitários, de ambos os sexos. Por sinal, a presença de duplas femininas somente se efetivou a partir de 2011, no XVII Raid Naval, competição realizada em Arraial do Cabo – RJ, com destaque para a dupla das alunas Camila Paulino e Alexandra, do 2º ano da Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante (EFOMM), que obtiveram a 8ª posição na classificação geral.
A XIX edição do Raid Naval contou com provas das modalidades esportivas de natação, corrida de orientação, canoagem, corrida, rapel e de tiro com arma de fogo. O tempo médio de duração da competição girou em torno de quatro horas e meia. O resultado final do XIX Raid Naval, no masculino, foi em 1º lugar da dupla de Cadetes Gradovski e Thauã Marques, representantes da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). A 2ª colocação ficou com a dupla de Aspirantes Thiago Gusmão e Caletti; e a 3ª colocação, com os Aspirantes Luiz Porto e Guzowski. No feminino, o 1º lugar foi da dupla composta por Cinthia Portes e Juliana Salgado, da UFRJ, com 05:08:29, o 2º lugar, da dupla Natalia Veiga e Maria Gabriela, alunas do CIAGA, com 05:24:10; e o 3º lugar, da dupla Agatha e Raquel, da UFRJ, com 06:01:03.
Cabe ressaltar que a entrega da premiação principal foi realizada pelo Comandante da Escola Naval, grande incentivador e praticante de várias atividades esportivas, o Contra-Almirante Antonio Carlos Soares Guerreiro.
A essência do Raid Naval está na promoção exponencial do redimensionamento das potencialidades do militar a fim de favorecer o desenvolvimento da paz. Outrossim, contribuir para a melhoria da aptidão física, mental, cognitiva, bem-estar biopsicossocial, fortalecimento individual e interação social através da promoção do espírito de equipe.
Por estar alinhado a um novo padrão de vida, torna-se capaz de levar as pessoas a serem protagonistas de uma vida saudável e, consequentemente, mais longa. Serve também para as pessoas terem mais respeito pelo seu próprio corpo e dos demais e, ainda, pelo meio ambiente.

Orientação

Além disso, a integração entre educação e esporte transmite valores, conhecimentos e habilidades para a vida. Também, por poder mobilizar voluntários, empregos, atividades comerciais, turismo e hotelaria, o Raid Naval promove inegável apelo socioeconômico e de marketing, aspectos possíveis de serem mais explorados pelo esporte.
Portanto, observa-se o quanto a interdependência – gestão estratégica e Raid Naval – converte-se em uma necessidade factível de prover, necessariamente, as variadas demandas do eloquente evento esportivo. Enfim, corrobora-se que o Raid Naval é mais uma acertada e tempestiva proposição esportiva emergente da Escola Naval.

Referências Bibliográficas  
MARUJO, M. P. XV Raid Naval: Responsabilidade Socioambiental através do esporte. 12º Simpósio Internacional de Atividade Físicas do Rio de Janeiro. SIAFIS RJ, 2008.
PORTER, M. Vantagem competitiva das nações. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1993.
TUBINO, M. G.; SILVA, K. M. Esporte e Cultura de Paz. Rio de Janeiro: Shape, 2006.
TUBINO, M. G; GARRIDO, F. A. C; TUBINO, F. M. Dicionário Enciclopédico Tubino do Esporte. Rio de Janeiro: SENAC. 2007.
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O texto publicado é original
GARRIDO, A.C. Fernando; MARUJO, P. Marcelo; COUTO, C. THAIANE. Raid Naval: A gestão estratégica como condição provedora do desenvolvimento de suas modalidades esportivas. Revista Villegagnon, Rio de Janeiro, Nº 8, p. (79-83), 2013. Disponível em:  http://www.redebim.dphdm.mar.mil.br/vinculos/000002/000002d5.pdf. Acesso em: 17 ago 2020.


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