Esporte e cinema: "Canal 100, o vento não levou!"

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A relação entre o esporte e o cinema no Brasil começou a dar seus primeiros passos na passagem entre os séculos 19 e 20, com filmagens de futebol e corridas automobilísticas.
A essa altura, as salas de cinema e os meios de comunicação, já representados pela imprensa escrita, veiculavam fatos esportivos, em especial do futebol.
O estreitamento da relação esporte-cinema intensificou-se no Brasil e no mundo depois da metade do século 20. No transcurso do tempo, foram inúmeras as produções de filmes sobre fatos da vida cotidiana e seus valores. Em âmbito nacional, essa relação consolidava-se na criação do Canal 100, idealizado por Carlos Niemeyer em 1959.
O esporte ganhava as telas e se tornava um dos maiores destaques do cinejornal semanal. O futebol consolidava-se como assunto mais comentado, com registro cinematográfico de lances e patrocínio da Caixa Econômica Federal (CEF).
A tela grande permitia captar detalhes do jogo não percebidos com facilidade e, assim, comentar as jogadas com mais precisão. A câmera lenta, por exemplo, era um dos recursos técnicos de maior repercussão na época. Saltavam aos olhos a emoção do torcedor e o seu envolvimento com os lances da partida, o que a televisão não mostrava.
A conquista da Copa do Mundo de Futebol de 1958, segundo Carvalho (1996) apud Garrido (2004), e a transmissão pelo Canal 100 levaram o esporte a ser rapidamente aceito pelo mercado cinematográfico brasileiro. O cinejornal passava a ser exibido em quase todos os cinemas do país, repassado por distribuidoras independentes.
As imagens eram distribuídas em 40 cópias semanais, em mais de mil cinemas, e de forma rotativa. Essas imagens atendiam às capitais de Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, entre outras. Uma cópia chegava a levar um ano em exibição.
Entre 1959 e 1996, o Canal 100 produziu um cinejornal por semana, formando um dos maiores acervos cinematográficos do país. Entre alguns dos filmes produzidos sobre o futebol estão: Brasil Bom de Bola (1970), Isto é Pelé (1974), Futebol Total (1974), Brasil Bom de Bola (1978), Fla-Flu à Sombra das Chuteiras Imortais (1985), Canal 100 na TV, Fluminense Campeão (1995) e O Glorioso Botafogo (1996).


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A divulgação do esporte na televisão, em especial do futebol, também crescia e criava um forte mercado de consumo de massa que atendia a gostos e negócios.
Em 1994, o Canal 100 foi parar na televisão brasileira. Uma parceria entre a Rede Manchete de Televisão e a Sport Promotion, empresa de marketing esportivo, levou o programa ao ar por cinco meses, com a apresentação de Milton Neves.
A veiculação do Canal 100 abrangia um projeto maior, chamado A Grande Jogada, do qual fazia parte também o apresentador e comentarista Osmar Santos. O Canal 100 ia ao ar durante cinco minutos, de segunda a sábado, às 20h, e, aos domingos, entre as 13h e 15h. 
Depois de experimentar uma fase letárgica, essa relação revigorou-se com a iniciativa da Petrobras de resgatar o acervo dessa memória para exibi-lo nas telas em 2016. Entre pesquisa e produção, foram cinco anos para restaurar dez documentários sobre ídolos do esporte nacional. A digitalização de imagens de grandes lances também alcançou outros esportes, como o automobilismo.
Coube à ESPN Brasil a exibição dos 10 documentários na televisão, entre eles:
“Reviva a Espera do Milésimo”, envolvendo a expectativa em torno do milésimo gol de Pelé; “Reviva o Fla-Flu Épico, o jogo de 1963 de maior público da história do futebol no Brasil (177.000 pagantes), com vitória do rubro-negro; e “Reviva as Feras do Saldanha”, sobre o time de ases montado pelo ex-jogador do Botafogo, técnico da seleção brasileira por curtíssimo período, escritor e jornalista João Saldanha, para disputar a Copa do Mundo de 1970. O time incluía Carlos Alberto Torres, Djalma Dias, Joel, Rildo, Piazza, Gerson, Jairzinho, Tostão, Pelé e Edu (Petrobrás, 2016).

Hão de se reconhecer, portanto, dois momentos exemplares e históricos para a relação entre o esporte e o audiovisual. Esse, que foi marcado pela iniciativa da Petrobras, e um segundo, ilustrado por dois filmes de repercussão mundial sobre histórias reais: Carruagens de Fogo e Invictus, de quase 100 anos de cenário temporal.
Não percam a oportunidade de assistir a filmes sobre esporte! Em nova oportunidade, voltaremos a esse tema!
 
Referências Bibliográficas
GARRIDO, F. A. C. Tendências da Cultura Esportiva no Rio de Janeiro: uma análise da mídia e da prática de esportes. (Tese de Mestrado). Rio de Janeiro. Universidade Gama Filho, 1999.
MAGALHÃES, M. V. D. Canal 100 - Que fim levou? - Terceiro Tempo. Disponível em: https://terceirotempo.uol.com.br/que-fim-levou/canal-100-rede-manchete-4492. Acesso em: 16 jun. 2020.
MELO, V. A. de. ESPORTE E CINEMA: DIÁLOGOS.  Disponível em: https://www.ludopedio.com.br/v2/content/uploads/011730_154.pdf. Acesso em: 16 jun. 2020.
PETROBRAS. Blog Fatos e Dados. Canal 100 está de volta em dez documentários sobre ídolos do esporte. Abr. 2016. Disponível em: https://petrobras.com.br/fatos-e-dados/canal-100-esta-de-volta-em-dez-documentarios-sobre-idolos-do-esporte.htm. Acesso em: 16 jun. 2020.
SONOTICIABOA.  Canal 100 volta digitalizado: ídolos da história do futebol. Disponível em: https://www.sonoticiaboa.com.br/2016/04/25/canal-100-volta-digitalizado-idolos-da-historia-do-futebol/. Acesso em: 16 jun. 2020.


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