Caça Submarina: aventura, natureza e mergulho radical
O primeiro equipamento do
esporte foi trazido ao Brasil, por Raimundo Castro Maia, no início da década de
1940.
O seu desenvolvimento, porém,
somente ocorreu depois da 2ª Guerra Mundial, quando pilotos de empresas
brasileiras de aviação e turistas em viagens ao exterior compraram
equipamentos, principalmente na Itália e na França, para uso próprio e de seus
amigos, todos praticantes do esporte.
A primeira incursão submarina no
país também ocorreu depois do término da 2ª Guerra Mundial, no Costão do Leme
(RJ). Dela participaram Chico Britto, João José Bracony, Moacyr Moura Costa,
Paulo Lefèvre, Eduardo de Oliveira, George Semamá e esposa e João Cavalcanti,
proprietário da lancha IRA, utilizada na ocasião.
Outros
esportistas se juntaram para promover o esporte, entre eles Bob Solberg, Antar
Padilha e Oscar Sjostedt.
Um dos
primeiros equipamentos do esporte, trazido em 1946 pelo francês George Semamá,
era da marca Le
Fusil Americain. A caça submarina deu seus primeiros passos com
cópias dos equipamentos – armas, arpões e respiradores – produzidas pelos
serralheiros do Iate Clube do Rio de Janeiro (ICRJ) e utilizadas pelos
pioneiros do esporte no país.
Os primeiros
núcleos de caçadores subaquáticos no Brasil foram fundados no Clube Marimbás e
no ICRJ, em 1946. Integravam a equipe do Marimbás: João Cavalcanti, João José
Bracony, Chico Britto, Eduardo de Oliveira (o Edu), João Borges, Carlos Braga,
José Pinto de Almeida e Sebastião Pocinha. Pelo ICRJ, Paulo Lefèvre, Victor
Wellisch, Eduardo Souto de Oliveira, Max Negelli e Toufic Saad. Esse grupo é
considerado o introdutor do esporte no Brasil.
O esporte
atraiu de imediato os meios de comunicação, que passaram a acompanhá-lo nas
pescas subaquáticas. Esse fato lhe trouxe mais visibilidade e rápida
popularização. Surgiam os primeiros torneios, com equipamentos improvisados que
ficaram conhecidos como: “Pinguim”, “Coca-Cola”, arma que dava tiros múltiplos,
e o “Eduardo”.
A arma
conhecida por Coca-Cola foi criada pelo americano Jim Connel, piloto da Panam
radicado no Rio de Janeiro. Essa arma era movida a dióxido de carbono e foi
desenvolvida para capturar grandes peixes. O arpão, de 1,40 metro de
comprimento e 9 milímetros de diâmetro, ficava preso a uma boia de aço por um
cabo de mesmo material e outro de tucum.
Na indústria
brasileira da década de 1950, surgiam empresas de mergulho como a Atlântida, a
Menrod do Brasil e a Orca.
Em
1951, a estrutura administrativa do esporte ganhou âmbito nacional com a
criação da Associação Brasileira de Caça Submarina (ABCS). Essa iniciativa
favoreceu a direção e a organização de competições pelo país.
O 1º
Campeonato Brasileiro de Caça Submarina, organizado pela ABCS em 1952, surgia na
Praia Vermelha (RJ). Esse evento teve como vencedores Antonio Guterrez, Luis
Serra Martins e José Olinto.
Os primeiros campeonatos
brasileiros, também organizados pela ABCS, tornaram-se cada vez mais populares,
principalmente quando se estenderam a Angra dos Reis (RJ), um dos muitos locais
privilegiados pela natureza no país.
A essa altura, a competição tinha
como exigência um peso mínimo de 2 quilos para o peixe capturado, o que trouxe
fama ao evento, pois constantemente apareciam fisgados enormes melros.
Em 1958, a
direção e organização da caça submarina no país passava para a responsabilidade da Confederação Brasileira de Desportos
(CBD).
As
competições estaduais do esporte iniciaram-se com o 1º Campeonato Carioca,
disputado em Angra dos Reis em 1959. O evento foi vencido pelo ICRJ. Integravam
essa equipe os atletas: Victor Wellisch, Bruno Hermany, Abel Gazio, Luiz Correa
de Araújo, Gustavo Silva e Péricles Memória (o Pegy).
As primeiras
participações internacionais trouxeram resultados expressivos ao Brasil em
torneios sul-americanos e campeonatos mundiais. Em 1958, no 1º Campeonato
Mundial da Confederação Mundial de
Atividades Subaquáticas (CMAS), em Sesimbra (Portugal), a
equipe brasileira estreou com a conquista do 3º lugar por nações.
Naquele
momento, destacavam-se os nomes de Bruno Hermany e Abel Gázio. Ambos alcançaram
excelentes colocações, levando o esporte a ganhar projeção nacional e
internacional. O intercâmbio com atletas estrangeiros e o uso de equipamentos
de alta qualidade também foram determinantes para desenvolver o esporte no
Brasil.
Foi nessa
época que o patrocínio se tornou decisivo para a participação de atletas em
campeonatos mundiais. A apresentação da arma Coca-Cola por Victório Berredo a
Roberto Marinho despertou seu interesse em se dedicar ao esporte.
A mídia
começava a dar destaque ao esporte. Em 1959, foi realizada a Copa do Atlântico,
promovida pelo jornal O Globo, em
Angra dos Reis. Dela participaram as equipes de França, Itália, Portugal e
Brasil.
No 2º
Campeonato Mundial, realizado em Malta (Espanha) também naquele ano, o Brasil
obteve o 4º lugar. Um ano depois, no 3º Mundial ocorrido em Ústica (Itália), o
Brasil conquistou o 4º lugar por nações. Nessa ocasião, Bruno Hermany se sagrou
campeão mundial individual.
No 5º
Campeonato Mundial, realizado no Rio de Janeiro em 1963, a equipe brasileira
obteve o 2º lugar, e o título de campeão individual coube novamente a Bruno
Hermany.
Na década de
1960, a caça submarina e o mergulho de competição começaram a aparecer em
colunas de jornal semanais. Em destaque, as colunas de: Yllen Kerr, no Jornal do Brasil; Victor Wellisch, em O Globo; Carlos Tavares, no Jornal dos Esportes, e Arduino
Colasanti, em O Jornal.
As primeiras
aulas de pesca de mergulho foram oferecidas pelos instrutores Américo
Santarelli e Bruno Hermany, na Aquacenter (loja de Bruno) e no ICRJ.
Surgiam grandes centros de
excelência no esporte. Um dos mais importantes foi o Iate Clube de Angra dos
Reis (ICAR), criado em 1950, instituição que contava com um grupo de atletas de
renome que disputava eventos internacionais. O ICAR contribuiu decisivamente
para o desenvolvimento do esporte no Brasil, tornando-se um dos clubes
pioneiros com grandes resultados expressivos desde 1966.
Em 1968, aparecia outro grande
nome do esporte, Clóvis Dutra. Atleta de importantes conquistas no Brasil e no
exterior, foi também presidente da Federação de Caça Submarina do Estado do Rio
de Janeiro (FCSERJ) e teve efetiva participação na criação da Federação
Internacional de Pesca Esportiva em Apneia (FIPSA). Contribuiu verdadeiramente
para a mudança das regras das competições no Brasil, na década de 1980, e para
a fundação da CBCS, em 1990.
Em 1973,
começaram as escolas de formação de mergulhadores. A primeira delas foi a CCS,
do Clube de Caça Submarina, hoje, CBD (Clube Barracuda de Desportos do Rio de
Janeiro).
Em São Paulo,
Claudio Guardabassi, várias vezes campeão paulista de caça sub, fundava a
Claumar, escola de formação de mergulho. Guardabassi formou-se instrutor pela
YMCA (Associação
Cristã de Moços), a primeira entidade a emitir uma C-card – certificação
de mergulhadores – nos Estados Unidos.
As participações internacionais
brasileiras de caça sub se intensificavam em campeonatos mundiais. Em 1975, em
Paracas (Peru), a equipe brasileira foi campeã com os atletas Antônio Freitas,
Américo Santarelli, Eduwaldo Lisboa, Gelson Costa, José Malta, Conrado Malta,
Ricardo Dias e Paulo Freitas.
O esporte se
estruturava hierarquicamente com a fundação da Confederação Brasileira de Pesca
e Caça Submarina (CBCS) em 1977. Posteriormente, essa organização passou a se chamar
Confederação Brasileira de Pesca e Desportos Subaquáticos (CBPDS).
O objetivo de
fortalecer a pesca ou caça submarina levou à fundação da Confederação
Brasileira de Caça Submarina (CBCS) em 1990. A organização passava a cuidar
exclusivamente da elaboração de calendários de competições em todos os níveis;
das representações em eventos internacionais; do cumprimento de regras e
regulamentos de acordo com as orientações estabelecidas pela federação
internacional, além de ações necessárias para desenvolver o esporte.
Nas duas
últimas décadas do século 20, a caça submarina brasileira obteve conquistas
expressivas em eventos no exterior. Em 1998, no Campeonato Mundial de Águas
Azuis, na ilha de Santa Maria, nos Açores (Portugal), o Brasil alcançou o primeiro,
o segundo e o quarto lugares individuais. Esse resultado garantiu ao Brasil o
título mundial por nações. O atleta Edmundo Souto de Oliveira ficou com o
título de campeão mundial individual. A equipe brasileira estava representada
por Ubirajara Jordão, Edmundo Souto de Oliveira, Marçal Mello Junior, Eduardo
Souto de Oliveira e Otto Magalhães.
O esporte
promove regularmente campeonatos brasileiros desde 1990, com a direção e
organização da CBCS e o apoio de clubes – os iates-clubes espalhados pelo país.
Os iates-clubes têm contribuído
decisivamente para difundir o esporte por meio de várias competições, entre
elas: a Copa Latina, a Copa Europeia e os Torneios Internacionais.
Os eventos mundiais reapareceram
no Brasil com a realização do 1º Campeonato Mundial de Pesca Esportiva em
Apneia FIPSA, em Cabo Frio (RJ), em 2006. O Brasil foi campeão por equipes, e
Paulo Sérgio Pacheco, campeão individual.
A pesca submarina – como
competição e, em especial, como lazer – é uma das atividades mais apreciadas
ligadas ao turismo e outras áreas. Também ajuda a estimular a economia
impulsionando negócios.
A extensa área costeira do Brasil
e seus diversos locais paradisíacos favorecem o desenvolvimento pleno das
atividades esportivas no ambiente marinho. O contato com a fauna e as paisagens
marinhas desperta valores e atitudes, cria relações com o meio ambiente e
fortalece a educação ambiental.
Um
grande número de organizações proporciona cursos de mergulho autônomo e livre e
estão espalhadas por todo o país. São escolas, cursos e centros de lazer que
oferecem formação profissional e especializada, além de ensinamentos básicos, e
treinamentos a para praticar o esporte.
Descrição Conceitual
A caça submarina, ou pesca
subaquática, é realizada com o abate do peixe na toca ou em locais permitidos
por lei.
Para isso, o esporte emprega
equipamentos como: máscaras, luvas, trajes de neoprene, botas, nadadeiras,
lanternas, facas, cintos de lastro, arpões de ar comprimido ou arbaletes e
boias ou pranchas de sinalização para avisar quando o mergulhador estiver sob a
água.
A pesca submarina é um
esporte de mergulho livre, realizado em apneia, ou seja, sem o uso de aparelhos
de respiração. Ela pode ser praticada em rios, mares e lagos.
Uma das prioridades no esporte é a segurança. Ele traz riscos
à saúde e à vida, pois pode possibilitar a falta de oxigenação do corpo no caso
de o praticante mergulhar fundo e sofrer um “apagão”. O controle motor pode ser
afetado, e o corpo treme como se o mergulhador estivesse dançando, o que pode
levar a desmaios e até à morte.
Recomenda-se que o mergulho seja sempre feito em duplas
ou grupos, o que garante ao praticante, em caso de imprevistos, a segurança de
ter alguém por perto para resgatá-lo.
É
importante que o praticante tenha conhecimento sobre os próprios limites e seja
prudente, não descendo a grandes profundidades. Um dos elementos essenciais do
esporte é o uso de boia de superfície ou prancha para avisar as embarcações da
existência de mergulhador na área.
A
caça aos peixes em toca é feita com arma de ar comprimido ou arbalete (arma de
elástico que pega o peixe em toca ou de passagem). Entre as técnicas
utilizadas, está a pesca de espera, na qual o caçador permanece imóvel enquanto
espera a aproximação dos peixes. Existe também a caça de toca. Nela, o caçador
se utiliza de lanterna como fator surpresa para pegar peixes entocados em
pedras.
Para
ser abatido, o peixe deve ser atingido na cabeça, sobretudo no olho, o que lhe
causa a morte imediata. Outra região ideal é a sua cauda, por ser um local da
coluna vertebral que desnorteia o animal.
A
pesca subaquática é um esporte seletivo, pois, além de escolher a espécie, o
caçador somente pega um peixe por vez.
A
pesca em geral é sazonal, devendo ser observado o período de defeso, quando ela
é proibida em determinadas épocas do ano.
O
caçador precisa possuir licença expedida pelo Ibama para a prática de pesca
amadora (esportiva) em qualquer modalidade (linha, caniço, rede, tarrafa etc).
O não
pagamento implica apreensão do material e do produto da pesca, além de outras
sanções previstas em lei. Há limites máximos estabelecidos em lei para o peso
da pesca capturada em águas marinhas e continentais.
Os
esportes de pesca são regulamentados em leis específicas e envolvem as esferas
federais de esporte, turismo e meio ambiente.
No esporte, é essencial observar regras rígidas de
uso e manuseio de equipamentos apropriados; licença à prática; condições
físicas e psicológicas dos atletas, além de condições ambientais como
correnteza, vento e temperatura, visibilidade e profundidade da água.
As
competições são realizadas com o apoio de lanchas. Os meios de transporte
conduzem os atletas e demais integrantes das competições – árbitros, direção e
pessoal de apoio – aos locais de prova e lá permanecem durante todo o evento.
O tempo das competições é pré-determinado e
estabelecido por regras e regulamentos. Os atletas devem caçar ou fisgar os
peixes exigidos pela competição, de acordo com a espécie, a quantidade, o peso,
o comprimento etc. A captura de espécies é reduzida, e as competições se decidem
pelo peso total pescado pelo atleta.
Organização no Brasil
A Confederação Brasileira de
Pesca e Desportos Subaquáticos (CBPDS), filiada ao Comitê Olímpico Brasileiro
(COB) e à Confederação Brasileira de Caça Submarina (CBCS), é a entidade
nacional que organiza as competições do esporte.
Organização
Internacional
O esporte é
dirigido internacionalmente pela Federação Internacional de Pesca Esportiva em
Apneia (FIPSA).
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