Esportes com animais: o corpo e a mente harmonizando-se em uma relação saudável
Desde os primórdios da humanidade, a relação homem-animal é encontrada nas lutas pela sobrevivência, em fins utilitários e nas guerras.
A busca por alimentos, novos locais de moradia, deslocamentos para o trabalho e para casa estreitou a relação entre o homem e os animais. Além disso, essa relação também está presente em processos migratórios decorrentes de guerras e conflitos, desastres naturais e perseguições políticas.
Práticas de caráter esportivo já podiam ser vistas desde os tempos gregos e romanos. As corridas de biga realizadas durante as guerras e as disputas no Hipódromo de Olímpia, por exemplo, estão retratadas em filmes de época.
Também havia as corridas a cavalo conhecidas por justas, típicas da Idade Média e do Renascimento. Nelas, cavaleiros equipados com armaduras, escudos, lanças, espadas ou machados percorriam distâncias em sentido contrário a seus oponentes para derrubá-los.
Das guerras antigas até as duas grandes guerras mundiais, essa relação foi intensamente explorada. Os animais eram utilizados, por exemplo, em treinamentos, executando vários tipos de atividades, como locomoção, logística e comunicação.
Nas guerras, especialmente os cavalos e os cães eram empregados em deslocamento de tropas, trenós, carroças que percorriam estradas de terra e trilhas e corridas solitárias pelos campos de batalha. Os animais levavam desde mantimentos e remédios até feridos e informações às frentes de batalha.
Na sociedade brasileira, a relação homem-animal aparecia em cavalgadas, torneios esportivos de derrubada de bonecos de palha, touradas, e nas atividades essenciais do campo que utilizavam bois e cavalos, além da caça e da pesca.
A equitação, por exemplo, surgiu no Exército brasileiro como componente para a formação militar, em 1810, na Academia Real Militar (atual Academia Militar das Agulhas Negras - Aman). Uma atividade de natureza essencialmente prática, que se desenvolvia sob a visão profissional, educacional, recreativa, além da esportiva. Vale lembrar que a Cavalaria faz parte do quadro de armas do Exército desde o tempo do Império.
A relação entre as práticas equestres e as atividades militares também estão presentes nas Força Auxiliares, particularmente na Polícia Militar.
As primeiras competições de corrida a cavalo apareciam nas areias da praia de Botafogo, em 1814. O cavalo naquela época era considerado um bem de valor inestimável pela sociedade. Como consequência, surgiram o Club de Corridas, em 1847, e a Escola de Equitação de São Cristóvão, em 1863, criados por militares.
As práticas equestres se encontravam diretamente relacionadas com a carreira militar, tornando-se marcante a presença dos militares em esportes olímpicos clássicos como o adestramento, os saltos e o concurso completo de equitação.
A chegada de duas missões militares francesas promoveu a implantação de profundas transformações no Brasil. A primeira delas teve como um dos objetivos o treinamento da Força Pública do estado de São Paulo, em 1905. A segunda, direcionada ao Exército Brasileiro em 1919, visava à modernização, à instrução e à profissionalização militar, o que conduziu, entre outras iniciativas, à criação da Escola de Equitação do Exército (Es. Eq. Ex) e potencializou o emprego do cavalo como esporte no Brasil.
Essa relação se estreitava com as atividades exigidas pela rotina profissional militar diária (da qual o esporte fazia parte) e, principalmente, com as modalidades olímpicas e o polo.
O Exército brasileiro também teve um papel preponderante ao difundir as modalidades do hipismo no Brasil, entre elas: a equitação, o adestramento, os saltos, o turfe e o polo.
A relação entre o homem e o animal também pode ser encontrada:
· na formação do militar e do cidadão;
· nas rotinas diárias de cuidado com o animal nas Forças Armadas, entre outros locais;
· no treinamento físico com o cavalo e o cão;
· em técnicas de adestramento;
· em cerimoniais militares do Exército e das Forças Auxiliares;
· nas missões de garantia da lei e da ordem;
· na preservação das tradições da Cavalaria;
· nos desfiles militares, onde se estabelece uma efetiva empatia entre a sociedade civil e o animal;
· no convívio diário entre o cavalo e a montaria e entre o cão e seu dono;
· na atribuição do cão como guardião;
· no acompanhamento do cão a deficientes;
· na equoterapia, um método terapêutico utilizado no tratamento de problemas de saúde, envolvendo a reabilitação e pessoas com necessidades especiais, a formação educacional e a inserção social;
· na busca e no resgate em geral;
· no controle do gado nas fazendas;
· nos treinamentos com fins educacionais, lazer e competição;
· no paraequestre criado a partir da equoterapia
Essa relação produz múltiplos benefícios ao corpo e a mente, entre eles:
· a melhoria do condicionamento físico-orgânico;
· o fortalecimento postural;
· o desenvolvimento de habilidades, competências, além de valências e domínios sensório-motores como agilidade, equilíbrio, coordenação e ritmo; e
· a transmissão de valores éticos, morais, sociais e afetivos.
Essa relação favoreceu a criação de práticas esportivas de origem brasileira. Entre elas estão o hipismo rural; a corrida de jegue, elemento cultural do nordeste brasileiro, e o basquete a cavalo, atividade realizada somente no meio militar.
As disputas do basquete a cavalo se tornaram tradição no meio escolar militar. Elas ocorrem entre os alunos e os oficiais da Aman. Não se podem precisar os primeiros passos desse esporte, pois se perderam no tempo. Pode-se afirmar, porém, que ele era praticado por aqui muito tempo antes da chegada de outro, o horseball.
A relação homem-animal-esporte expandiu-se com oferta de diversas modalidades esportivas e competições e com o crescimento da agropecuária no país, a partir de meados do século 20.
A necessidade de deslocar o gado com o cavalo por longas distâncias conduzindo-o a locais seguros levou ao desenvolvimento de esportes com animais no campo (western). A vaquejada e o rodeio são alguns bons exemplos envolvendo o emprego de cavalos, bois, touros e bezerros. Muitas dessas práticas esportivas, de origem norte-americana e europeia, chegaram durante o século 20 e se difundiram rapidamente com diversos tipos de animais e modalidades.
A estruturação organizacional dos esportes equestres no Brasil ocorreu com criação da Confederação Brasileira de Hipismo (CBH), das suas entidades estaduais filiadas e das associações de criadores de raças. Isso impulsionou especialmente os esportes reconhecidos pela Federação Equestre Internacional (FEI) como olímpicos e não olímpicos.
As associações de criadores de cavalos de raça são um bom exemplo desse fomento ao esporte olímpico (equestre) com animais e do campo. Elas dirigem e organizam os esportes equestres no meio rural, favorecendo o surgimento de grandes atletas. São também responsáveis por preservar, controlar, melhorar, difundir e comercializar as raças e promover eventos esportivos.
Alguns desses esportes foram oficializados com a fundação da Confederação Nacional de Rodeio (CNAR) e da Associação Brasileira de Vaquejada (ABVAQ), entre outras entidades nacionais. A CNAR, suas federações filiadas e associações de provas de laço dirigem e organizam os eventos esportivos no campo (western) com vários tipos de animais.
Os eventos dirigidos pela CNAR envolvem modalidades de origem norte-americana, europeia e brasileira. São realizados campeonatos, copas, festas e circuitos nacionais e internacionais. Os peões brasileiros estão entre os melhores do mundo, com recordes, títulos e prêmios em dinheiro obtidos em campeonatos no Brasil e, principalmente, nos Estados Unidos.
Os eventos dirigidos pela ABVAQ são realizados em parque nacionais do vaqueiro, ranchos e fazendas. Desses eventos participam vaqueiros, cavalos e bois, podem ser encontrados em grande quantidade, principalmente, na Região Nordeste, além de Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Uma outra entidade de direção nacional que lida com a relação entre o ser humano e o cavalo é a Associação Nacional de Equoterapia (Ande). A Ande tem o objetivo primordial de atender os portadores de necessidades especiais, com fins biopsicossociais. Além disso, a Ande se envolve em atividades terapêuticas, treinamentos e em competições do paraequestre. A equoterapia é oferecida em centros especializados filiados, espalhados por todo o país.
A organização dos esportes com animais repercutiu no aumento dos eventos esportivos a cavalo pelas grandes cidades do país. Da mesma forma, eventos com diversos tipos de animais cresceram exponencialmente no meio rural brasileiro.
Os esportes com animais estreitaram as relações com áreas e setores da atividade humana, o que ajudou a popularizar as modalidades olímpicas, não olímpicas, paralímpicas e rurais.
Um dos fatos históricos marcantes do esporte equestre brasileiro foi a decisão de integrar atletas civis e militares nas delegações para disputar eventos esportivos mundiais. Com isso, ele passou a ganhar mais atenção da mídia, do marketing e das empresas privadas, favorecendo a difusão de suas modalidades no meio civil e abrindo novas e grandes perspectivas de negócios.
São diversos os tipos de eventos com animais. Eles vão desde feiras realizadas em parques de exposição e centros de convenção a eventos esportivos organizados em arenas criadas para o grande público. Também ocorrem em fazendas e haras com acomodações cobertas e em diversas cidades do interior do país.
O turfe, o rodeio, a vaquejada e o canicross reforçam a importância dos esportes com animais no Brasil. Como competição, educação, recreação e saúde, esses esportes acabaram criando parcerias com entes públicos e privados, impulsionando a geração de empregos direta e indireta, de renda e impostos e movimentando a economia local e nacional.
O esporte com animais se difundiu nas grandes cidades e, principalmente, no campo, criando e consolidando relações entre setores como prefeituras, turismo, hotelaria, gastronomia, indústria e comércio de equipamentos e materiais exclusivos, medicamentos, mídia, marketing, medicina veterinária e leis de proteção aos animais.
A relação entre o esporte e o animal colaborou efetivamente para a melhoria genética das raças e a intensificação da agropecuária brasileira, acompanhadas pelo desenvolvimento de pesquisas científicas. Impulsionou também a economia das cidades interioranas com um calendário formal de eventos esportivos anuais.
No longo processo de desenvolvimento social brasileiro, muitos esportes passaram a ser reanalisados, exigindo-se maior controle social sobre atos de repugnância e violência. A exigência se estendia à formulação de novas regras e regulamentos envolvendo a proteção, o manejo, a alimentação e a valorização do bem-estar do animal, conforme ocorreu com a vaquejada.
Algumas práticas esportivas com animais são reconhecidas no Brasil como patrimônio cultural imaterial. Um dos exemplos é a vaquejada, considerada um esporte de tradição cultural nordestina e nacional.
A relação entre o homem e o animal caracteriza a essência do que venha ser considerado esporte, não sendo a disputa entre animais considerada como tal.
Como exemplos da relação homem com o animal, em que este executa uma tarefa pré-determinada, encontram-se esportes como o turfe, o canicross e o agility. Já na relação homem versus animal, estão a pesca e a caça.
Os esportes com animais, especialmente os equestres clássicos (olímpicos) ou não, são encontrados em locais como sociedades ou clubes hípicos, hipódromos, escolas de equitação, spas, haras, clubes campestres, fazendas e hotéis-fazenda.
Nesses locais, normalmente são oferecidos o ensino básico de montaria e cavalgada, a formação de atletas (corridas de turfe e modalidades olímpicas), treinamento, competições de saltos, CCE e adestramento. Além disso, a acomodação e os cuidados necessários com os animais e passeios a cavalo estão à disposição daqueles que desejam praticar cavalgadas e trilhas.
Há raças de cavalos, cães e outros animais mais adequadas a uma ou a outra modalidade esportiva por se adaptarem melhor às condições de treinamento e competição exigidas.
Esse conteúdo não pretendeu esgotar esse tema tão enriquecedor. Em outras oportunidades, contaremos novas histórias sobre as modalidades esportivas com animais!
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Referências Bibliográficas
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